Um troféu, uma maldição e uma estátua cabeluda

Desde que foi campeão, em 1968, o Unión Magdalena não voltou a ganhar nada. Até o troféu andou desaparecido

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A estátua de Carlos Valderrama resiste, mas o Unión Magdalena já não joga no estádio junto ao qual o monumento está DR
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A equipa do Unión Magdalena que foi campeã da Colômbia em 1968 DR
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Valderrama iniciou a carreira de futebolista no Unión Magdalena, que representou entre 1981 e 1983 DR

A silhueta é reconhecível ao longe: braços abertos, cabeleira exuberante e bola aos pés. Carlos Valderrama, futebolista com mais internacionalizações pela Colômbia e capitão dos “cafeteros” em três Mundiais, está imortalizado em estátua (ainda em vida) junto ao estádio que já foi do Unión Magdalena, clube em que iniciou a carreira. Mas não se sabe por quanto tempo. A cidade de Santa Marta, de onde é natural o ex-médio, tem vindo a debater o que fazer com a estátua de 6,5 metros de altura: o estádio vai ser demolido e a equipa já não joga ali. “Se querem removê-la então que ma dêem, fico eu com ela”, desabafava Valderrama em Abril. Por enquanto, a estátua continua no sítio.

Este é só mais um exemplo de como a relação de Santa Marta com o futebol se complicou. Há precisamente 48 anos a cidade, no extremo norte da Colômbia, estava ainda a viver na ressaca da festa pela conquista do campeonato nacional. O Unión Magdalena tinha-se sagrado campeão pela primeira vez, oferecendo à cidade um título que persiste: ser o local mais a norte na América do Sul a ter alguma vez estado representado no escalão principal de uma competição de futebol. O pior é que desde então a cidade não voltou a ter motivos para festejar.

Fundada em 1525, Santa Marta orgulha-se de ser a cidade mais antiga da Colômbia. E, em 1968, entrou para o mapa do futebol colombiano graças ao campeonato conquistado pelo Unión Magdalena. Apenas 17 anos depois de ter surgido, o clube intrometeu-se no domínio do eixo Bogotá-Medellín-Cali, cidades onde ia parar a esmagadora maioria dos títulos.

Com origem num grupo de futebolistas húngaros que estava na Colômbia em digressão, o clube de Santa Marta foi criado em 1951 com o nome de Samarios. Nesse mesmo ano, a equipa obteve aquela que ainda continua a ser a maior goleada da história do futebol colombiano: 12-1 ao Universidad de Bogotá. Um ano depois, porém, o clube que em 1953 viria a tornar-se Unión Magdalena ver-se-ia no lugar contrário, ao ser “cilindrado” pelo Quindío (1-11).

Mas isso não passou de um acidente de percurso no caminho que levaria o Unión Magdalena à glória. O clube “bananero” conseguiu o maior feito em 1968, ao terminar o torneio de abertura no primeiro lugar. Apesar de ter sido décimo na segunda etapa do campeonato, já tinha garantido o direito a disputar a final com o Deportivo Cali: venceu 1-0 na primeira mão, em Cali, e o empate 2-2 em casa bastou para fazer a festa. O título permitiu a participação na Taça dos Libertadores, com um desempenho honroso (duas vitórias, um empate e três derrotas) mas que não evitou a eliminação na primeira fase.

Tão depressa como apareceu, o sucesso desportivo abandonou o Unión Magdalena. Conta-se a história de um adepto que morreu espezinhado durante os festejos do campeonato, em 1968, para falar da “maldición de la celebración”, que terá afastado o clube dos títulos desde então. Em 1970, os “bananeros” viram desaparecer inexplicavelmente o troféu de campeão – a taça só reapareceu no ano passado: “O troféu recuperou-se na sequência de uma chamada de um jovem que disse tê-lo encontrado enterrado no quintal e que o tinha em casa como decoração”, podia ler-se no diário El Informador.

Após anos de altos e baixos, o Unión Magdalena disputa desde 2005 o segundo escalão. Um grupo de ex-jogadores do clube, encabeçado pelo icónico Valderrama, assumiu a direcção e fez alguns investimentos em 2009. Mas os resultados não corresponderam às expectativas e o Unión Magdalena continua longe do primeiro escalão. E, desde 2013, anda também longe de Santa Marta: tem andado com a casa às costas, a jogar em estádios emprestados, devido ao encerramento do velhinho Estádio Eduardo Santos, devido à falta de condições de segurança. O único testemunho do passado é mesmo a estátua de Valderrama.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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