Levado pelas aves
Pobre Luciano Ponzetto. Morreu. Era o veterinário que recebeu ameaças de morte por ter divulgado fotografias dele com os animais que matou, entre os quais um leão. Morreu a fazer o que mais gostava: a caçar.
O PÚBLICO informa que “segundo a imprensa italiana, Ponzetto morreu enquanto andava à caça de pássaros selvagens, ao escorregar numa camada fina de gelo, caiu de um penhasco a mais de 30 metros de altura”.
Ponzetto defendia-se a dizer que gostava muito de animais, que a caça a grandes mamíferos era legal e, quanto ao leão, tinha sido há muitos anos. A Associação de Veterinários Italianos apoiou-o mas ele perdeu o emprego na mesma.
A notícia espalhou-se pela Internet com uma pressa jamais vista. É um daqueles casos em que se é moralmente obrigado a rever a reacção imediata. A reacção imediata, tenho de confessar, foi de alegria. Sim, alegria com a morte de um homem. Depois agradeci àqueles pássaros selvagens o serviço que prestaram. Ainda achei poético, num registo hakuna matata, que tivessem sido passarinhos a vingar a morte daquele leão.
Até pensei, que Deus me perdoe não só o pensamento como a benção que se segue, que abençoados eram o penhasco e o gelo, como abençoadas são as finas camadas dele.
Depois fiquei com vergonha destes pensamentos, ao lembrar-me que Ponzetto era um ser humano com família e amigos. Voltei à civilização e à humanidade. Levou um bocadinho mas voltei. Mas nunca mais me esqueço de como me diverti à grande durante o meu estado selvagem.