Sundance 2017, um festival para mostrar "o outro lado" da América
Cinema independente americano mostra-se no dia em que Trump é empossado. Dezenas de novos filmes intimistas, mas também sobre o Daesh ou a Guerra do Golfo, na programação.
O mundo assistia avidamente à efervescente campanha eleitoral dos EUA, mas os responsáveis pelo Festival de Sundance estavam a ver outra América. “Enquanto isso estava a acontecer no mundo exterior, nós estávamos a ver filmes que mostravam o outro lado – um lado mais íntimo, mais pessoal da vida das pessoas”, conta John Cooper, director do Festival de Sundance sobre os 16 filmes independentes que em Janeiro estarão em competição.
Redes sociais, anorexia, praxes, Daesh, Guerra do Golfo ou a dose habitual de famílias num lugar emocional estranho anteciparão a corrida dos Óscares de 2017 mas também, potencialmente e à imagem do que tem acontecido nos anos anteriores, a de 2018. O director do Festival de Sundance, verdadeira instituição indie norte-americana, diz à revista Variety que a safra de 2017 lhe trouxe “optimismo”. E se Cooper admitiu que esse processo também foi “um pouco esquizofrénico”, como assinalou na revista Hollywood Reporter, o festival inaugura em 2017 um programa dedicado a filmes sobre alterações climáticas e preservação do ambiente, uma causa para o fundador do evento, Robert Redford, e que a imprensa associa à eleição de um presidente que disse já não acreditar no fenómeno do aquecimento global.
No total, há 16 filmes a concurso na secção dramática dos EUA, oito deles primeiras obras. Há Ingrid Goest West, de Matt Spicer, a comédia/drama Patti Cake$, de Geremy Jasper, To the Bone, de Marti Noxon, e dois actores que se estreiam na realização – Zoe Lister-Jones com Band Aid, Macon Blair com I Don’t Feel at Home in This World Anymore. Gillian Robespierre regress a Park City, no Utah, onde se realiza o festival, com o tributo aos anos 1990 Landline, enquanto Alex Ross Perry dirige Golden Exits, Michael Larnell traz o hip-hop com Roxanne Roxanne e The Yellow Birds, de Alexandre Moor, reflectirá sobre a Guerra do Golfo com base no romance de Kevin Powers. Brigsby Bear, de Dave McCary, ou Novitiate, de Maggie Betts, são outros dos integrantes do concurso principal.
Na secção de documentários, outros 16 títulos que vão de temas como um crime infantil, recifes de coral ou cidadãos-jornalistas que se unem contra o Daesh, casos de polícia ou a luta pela água na Califórnia. O New York Times destaca dois deles: um como favorito para o prémio do público – Step, de Amanda Lipitz, sobre um grupo de raparigas de liceu e a Baltimore em tensão onde vivem a ver-se em fundo – e Whose Streets?, de Sabaah Folayan e Damon Davis – sobre os protestos de Ferguson após a violência policial fatal sobre jovens negros.
Sundance mostrará ainda 12 filmes estrangeiros e 12 documentários estrangeiros (Portugal não está representado), todos em estreia mundial, de realizadores como Felipe Bragança (Don't Swallow My Heart, Alligator Girl!), Ernesto Contreras (Sueño en otro idioma), Tarik Saleh (The Nile Hilton Incident) ou Jun Geng (Free and easy).
O festival decorre de 20 a 29 de Janeiro (a tomada de posse de Donald J. Trump é dia 20) e mostrará 113 filmes de 32 países. Traz consigo rostos já familiares do cinema independente dos EUA como Jason Schwartzman, Elizabeth Olsen, Michael Cera ou os veteranos Parker Posey e John Turturro, e estrelas como Jennifer Aniston, Elijah Wood ou Claire Danes. Mais títulos serão revelados nas próximas semanas. No ano passado, o grande vencedor for Birth of a Nation, de Nate Parker, muito disputado pelos distribuidores e depois com resultados mornos nas bilheteiras, na esteira das acusações de abuso sexual de que o realizador é alvo. A lista completa de seleccionados pode ser consultada aqui.