Audiências? “Estou confortável” com o terceiro lugar

Está-lhe vedada por lei qualquer interferência nos conteúdos, mas Gonçalo Reis elogia as opções na informação e defende documentários em horário nobre por acrescentarem valor em relação à oferta das privadas.

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"A RTP2 está a fazer um caminho visível de se afirmar cada vez mais como o canal da cultura e do conhecimento", diz Gonçalo Reis DR

A RTP1 continua em terceiro lugar nas audiências, entre os 13%,14%. Está confortável com esse desempenho?

Estou. Sobre as audiências deve colocar-se a questão em binómio: quantos vêem na íntegra e quantos vêem o quê? Esta parte da equação é decisiva porque essa é que é a verdadeira medida da relevância do serviço público.

Quando a RTP emite em horário nobre um documentário do Amadeo de Souza-Cardoso — uma opção arrojada e interessante do director de programas, aliás — que é visto por 500 mil pessoas isso é bom ou mau? Se analisar com os óculos apenas da métrica das audiências pode dizer que é fraco, porque à mesma hora as novelas dos privados tinham o dobro ou mais de espectadores. Mas se analisar numa lógica de serviço público de qualidade, de fomento do talento e criatividade nacionais, de promoção da diversidade em antena, então é bastante relevante.

E então a RTP cumpriu a sua missão?
Cumpriu. Na área da informação, quando há grandes acontecimentos, como as eleições americanas, no dia seguinte o Telejornal da RTP1 lidera, no dia da entrega do OE2017 também. Isso significa que, no tal binómio, a RTP é uma referência em determinados programas e tipologias de oferta. Isso é que dá carácter, personalidade e razão de ser ao serviço público.

Por isso a RTP2 continua a fazer todo o sentido?
A RTP2 está a fazer um caminho visível de se afirmar cada vez mais como o canal da cultura e do conhecimento, e com óptimos resultados em termos de público. É o único canal aberto a subir em audiências este ano.

Qual é a explicação?
Acho que o público valoriza uma oferta de programação consistente, diferenciadora, qualificada, estabilizada, com uma oferta de séries excepcional, bem dirigida ao seu público-alvo e que acrescenta ao panorama geral. A RTP2 está a crescer por boas razões, não por uma lógica de cedência ao facilitismo.

A informação da RTP distingue-se dos outros canais?
Não gosto de entrar em temas de conteúdos, mas acho que a informação da RTP está a fazer um óptimo caminho, a marcar a agenda, está com mais reportagem e actualidade, a aproveitar muito bem a nossa presença internacional: a Márcia Rodrigues e o Vítor Gonçalves nos Estados Unidos, a Rosário Salgueiro em Paris, o Paulo Dentinho no Oriente Médio, são casos em que estamos muito activos. Estou muito confiante na RTP3. Se 2016 foi um ano excelente para a RTP2, acho que 2017 será o da RTP3. Tem uma equipa super-qualificada, variada, com competências sectoriais, várias linguagens, com históricos da RTP e frescura de mercado, credibilidade e diferenciação.

Mas desde Janeiro a CMTV tem sido o tomba-gigantes dos canais informativos…
É um facto. A TV não é uma realidade à parte do resto do país e dos media. Se há um título que é muito forte na imprensa e se o reproduz em canal de notícias com as mesmas valências, equipas e abordagem semelhante, e com eficácia, então é expectável que também tenha êxito em TV. Cada um tem a sua filosofia, a RTP3 tem um determinado cuidado e linguagem, e deve manter-se e crescer no seu registo.

Houve cedência ao sensacionalismo no caso da entrega em directo de Pedro Dias [suspeito de um duplo homicídio em Aguiar da Beira]?
Não gosto nem devo comentar opções de conteúdos em concreto e, por acrescento de cuidado, sobre a informação. Mas vejo com bons olhos que a RTP faça reportagem e investigação, que esteja activa, seja um operador de referência, mas que vive no mercado. Nos estudos qualitativos que fazemos, o termo serviço público não tem hoje uma conotação negativa.

Há uma forma diferente de encarar a RTP e o serviço público da que existia em 2002, quando aqui chegou pela primeira vez?
Há. O valor mais reconhecido à RTP nos focus group é a confiança. Olhando para há 15 anos, cada vez mais a RTP é vista não como a TV e rádio do Estado, mas sim como um serviço de conteúdos e de media do cidadão. E para isso ajudou a mudança do modelo de financiamento, de supervisão, de desgovernamentalização, e o distanciamento que cada vez mais os governos têm em relação à RTP vão todos nesse sentido.

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