Kanye West teve um mau fim-de-semana

Parou um concerto pouco depois de começar para criticar Beyoncé e Hillary Clinton; cancelou outro concerto horas antes do início; há dias apoiou Trump sob apupos do público.

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Eric Thayer/REUTERS

Kanye West é conhecido pela sua música, pelo seu sentido de espectáculo e pela sua boca – capaz de proferir as mais fortes declarações, acompanhando-o nos actos mais inesperados, como quando invadiu o palco dos MTV Awards para dizer que Taylor Swift não merecia o prémio que acabavam de lhe pôr nas mãos, mas sim Beyoncé. E agora, entre outros visados, foi mesmo contra Beyoncé que falou. E contra Hillary Clinton, e contra a rádio americana, e contra Mark Zuckerberg.

O concerto de sábado, em Sacramento, ficou-se pela terceira canção depois de uma longa tirada de críticas em que visou desde o Facebook ao Google, passando pelos colegas que antes admirava incondicionalmente; a actuação seguinte, o concerto de Los Angeles, agendado para ontem, domingo à noite, foi cancelada a poucas horas do início; dias antes, na quinta-feira, tinha sido apupado noutro concerto por apoiar Donald Trump. Kanye West não teve um bom fim-de-semana.

West encontra-se em plena digressão Saint Pablo (o nome do seu segundo filho e o nome do último álbuml). Depois de ter falado, há meses, sobre a possibilidade de se candidatar à presidência dos EUA em 2020 e de isso se ter tornado uma menção frequente entre os desencantados com a vitória de Donald Trump nas eleições de 8 de Novembro, West terá desiludido muitos dos seus fãs presentes no concerto de quinta-feira em San Jose, na Califórnia.

Pelo menos foi o que indiciaram os seus apupos quando o músico lançou uma das suas tiradas sobre o facto de não ter votado – “mas se tivesse votado, tinha votado em Trump”, disse, falando pela primeira vez sobre a sua preferência na sequência de uma campanha que foi marcada pela presença proeminente de músicos e celebridades (sobretudo do lado da candidata do Partido Democrata Hillary Clinton). Para West, a estratégia de Trump foi “genial” e “resultou”. E justifica porque é que considera que foi tão eficaz, dizendo que assim os racistas se revelarão. “Nenhum candidato resolveria o problema do racismo neste país”, postulou, dizendo, segundo relatam espectadores presentes em San Jose, que os afroamericanos devem “parar de se focar no racismo”. “Estamos num país racista. Ponto final.”

 As redes sociais detalham que membros do público do concerto do rapper atiraram objectos para o palco perante as declarações de West. “Detesto o facto de, por ser uma celebridade, toda a gente me ter dito para não dizer que adorei os debates. Adorei a abordagem dele”. Os vídeos partilhados nas redes sociais mostram partes das suas declarações. Kanye West continuou o concerto e a certa altura gritou “build that wall” [“construam esse muro”], uma das promessas eleitorais de Trump que visa erguer uma divisão na fronteira México-EUA e uma frase gritada nos seus comícios.

Mas também se dedicou a explicar um pouco melhor que não é o que muitos equiparam à retórica Trump – “Não significa que não ache que as vidas dos negros importem [black lives matter, o movimento contra a violência policia]. Não significa que não ache que sou um crente nos direitos das mulheres. Não significa que não acredite no casamento gay”.

Sábado, em Sacramento, numa outra longa tirada, Kanye West escolheu então alvos mais corriqueiros – as rádios, porque não passam Frank Ocean ou Kid Cudi (“Adoramos Drake, Drake é óptimo. É um grande artista. Mas Frank Ocean também é óptimo”) – mas também alvos que outrora defendeu.

Decidiu expor alegadas exigências do poderoso casal Beyoncé e Jay Z, dizendo que a autora de Lemonade teria dito que só actuaria numa cerimónia de prémios (que não nomeou) se soubesse de antemão que tinha ganho. Falou de Jay Z – “Eu sei que tens assassinos. Por favor não os mandes para mim”; “Fala comigo com um homem” – e atirou-se a Mark Zuckerberg sobre a possibilidade de o fundador do Facebook o ter ajudado com dívidas: “Quando eu disse que tinha dívidas de 53 milhões [de dólares] e não me ligaste, estavas errado?... Disseste que ias ajudar e não ajudaste. E depois foste à procura de extraterrestres."

Sobre uma digressão que estava prestes a interromper, disse ainda que “a digressão Saint Pablo é mais relevante do que a rádio" e avisou a assistência: "Se vocês continuarem a seguir velhos modelos, vão ser como a Hillary Clinton." Deixou o microfone cair e abandonou o palco, com vários vídeos a mostrarem a desilusão do público. Alguns espectadores cantavam “Fuck you Kanye” e, segundo o jornal local San Jose Mercury News, começaram a atirar-lhe bonés, ténis ou camisolas.   

Horas depois, já durante o dia de domingo, West cancelou o concerto dessa noite no The Forum, em Los Angeles, que já era um concerto de compensação por um outro que encurtou devido a problemas de saúde. A próxima data da Saint Pablo Tour é também na Califórnia, em Fresno, esta terça-feira.

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