Um GPS para a ciência
A FFMS, como mais um par de fundações em Portugal, tem desenvolvido um serviço público notável que muito ajuda a fazer deste um país mais esclarecido e mais desenvolvido.
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) fez mais um simpático favor ao país e criou uma forma de juntar virtualmente os cientistas portugueses espalhados pelo mundo. É o GPS, Global Portuguese Scientists, uma ideia tão simples e ao mesmo tempo tão útil: uma rede social para cientistas que permite saber quem está onde e a fazer o quê. Serve para perceber até onde vai o talento científico e tecnológico português, mas tem outra vantagem: permitir perceber a dimensão da fuga de cérebros e quanto os outros países estão a ganhar com a formação portuguesa.
Alguns dos pontos no mapa do GPS estarão a complementar a formação ou a produzir ciência que não poderia ser feita dentro do território, mas outros estarão a fazer algo que poderiam ter feito aqui. Quase todos são cientistas portugueses de qualidade em quem o Estado português investiu, mas não o suficiente. Depois da formação em Portugal, não houve incentivo para continuarem aqui, o que levou o país a perder quatro vezes: perdeu o dinheiro que investiu nas formações, perdeu o talento nacional, perdeu a geração de emprego e dinamização económica, perdeu as receitas que viriam desse posto de trabalho. Mais do que isso, perdeu alma. E se um estudo do ano passado sobre este tema cifrou as perdas em 9 mil milhões de euros, é bem possível que o valor relativo seja muito maior do que é directamente mensurável nas contas nacionais.
A FFMS, como mais um par de fundações em Portugal, tem desenvolvido um serviço público notável que muito ajuda a fazer deste um país mais esclarecido e mais desenvolvido. Com um espírito de missão semelhante em algumas entidades do Estado, seria mais fácil reverter parte desta “fuga de cérebros” e ajudar ao desenvolvimento da ciência nacional. Até porque, para validar um discurso que tece loas ao empreendedorismo e à iniciativa tecnológica, faz sentido ter cá os cientistas e os técnicos que possam concretizar a ideia tecnológica. Não há empreendedorismo sem ciência, tal como não há desenvolvimento sem ciência. E se queremos ser competitivos é essencial não desperdiçar talento como temos vindo ciclicamente a fazer nesta área.
A promoção de Portugal como destino turístico de eleição, que é por vezes apresentada como uma panaceia para todos os males do país, não pode nunca ser o caminho único que desculpe todos os desinvestimentos. Até porque alguns têm consequências bem à mostra – neste e noutros GPS.