“As imagens dos maços não são chocantes, as doenças é que são chocantes”

Directora do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo diz que a proibição de fumar a cinco metros de escolas e hospitais visa proteger os não fumadores.

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Guilherme Marques

Emília Nunes, directora do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, diz que este é um problema multifactorial e que não chega uma medida isolada para o combater. A especialista defende que é preciso ir avançando com novas medidas, porque as pessoas vão-se habituando às restrições e estas vão deixando de surtir efeito. 

As imagens de choque nos maços de tabaco estão a ter algum impacto?
Não lhes chame imagens chocantes. São imagens ilustrativas das doenças que a exposição ao consumo de tabaco provoca. As doenças é que são chocantes, basta ir ao IPO (Instituto Português de Oncologia) para perceber isso. Mas não é possível fazer por enquanto uma avaliação do impacto das imagens, até porque passaram apenas seis meses e ainda estamos no período transitório (até Maio de 2017).

A Organização Mundial de Saúde recomendou em Maio que os países optassem pelas chamadas embalagens neutras, sem logótipo das marcas. Concorda com esta medida?
Ainda não foi colocada em cima da mesa em Portugal, mas somos a favor, a medida tem fundamento. Não podemos, porém, avançar com todas as medidas ao mesmo tempo. Temos que ir caminhando passo a passo, há países mais avançados, como o Reino Unido e a França [que já adoptaram as embalagens neutras]. No Reino Unido até já proíbem a exposição dos produtos do tabaco nos locais de venda, estão fechados com portas do tipo das dos frigoríficos. Também está provado que o aumento [significativo] do preço do tabaco é muito eficaz. Mas nós temos neste momento outras medidas prioritárias já por si com dificuldade de aceitação...

Refere-se à  proibição de fumar a cinco metros de distância dos hospitais e das escolas que foi contestada por alguns deputados no Parlamento. Por que motivo optaram pelos cinco metros?
Baseamo-nos  nas medidas de outros países,  nomeadamente nos 15 pés [definidos] para Nova Iorque. Mas  a distância pode ser quatro, cinco, seis ou dez metros. O que se pretende é sinalizar a importância de não fumar ao pé das escolas e dos serviços de saúde. Temos queixas de pessoas que vão a serviços de urgência e que veem fumadores à porta. É preciso proteger as pessoas que não fumam. Cabe-nos fazer as propostas, mas o Parlamento é que é soberano.

Para as pessoas que querem deixar de fumar, como estamos de cobertura das consultas de cessação tabágica?
Não tínhamos como objectivo imediato a cobertura universal. Depois de a lei do tabaco entrar em vigor [em 2008), multiplicaram-se as consultas [em centros de saúde e hospitais] mas muitas fecharam entretanto. Actualmente, nas administrações regionais de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, do Centro e do Algarve, a cobertura é quase universal. Em pior situação estão as administrações regionais de saúde do Norte e do Alentejo. A Linha de Saúde 24 informa os cidadãos dos serviços disponíveis.

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