Impossível prescindir da marca Ronaldo

Especialistas apontam o jogador português como determinante na estratégia do Real Madrid.

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Gerard Julien/AFP

Ao garantir a renovação de Cristiano Ronaldo até 2021, o Real Madrid terá assegurado muito mais do que a continuidade da jóia da coroa “merengue”, da lenda insaciável, construída em torno de recordes inabaláveis. O Real, de acordo com Lionel Maltese, especialista em marketing desportivo e professor na Kedge Business School, em França, não tinha alternativa. O avançado português não pode, mesmo aos 31 anos, ser descartado: desportiva e financeiramente, campo no qual o impacto do fenómeno de popularidade planetária esmaga a questão do preço.

O futuro rendimento desportivo, mesmo num quadro de médias incrivelmente consistentes ao longo de uma década, pode levantar algumas questões. Mas para Lionel Maltese não há dúvidas. A “raridade” de Cristiano Ronaldo no panorama mundial justifica plenamente um vínculo que vai muito para além do ano 2021.

“Este contrato garante um nível incomparável de visibilidade internacional ao clube. No lado inverso, perder Ronaldo descredibilizaria o Real Madrid”, sustenta Maltese.

Renovar com o português seria, em quaisquer circunstâncias, um excelente negócio para o emblema espanhol — um dos clubes mais poderosos do mundo, com 577 milhões de euros de lucro no exercício de 2015, segundo relatório da Deloitte —, ao ponto de dispensar qualquer tipo de cálculo em torno da actualização salarial proposta a Cristiano Ronaldo.

“Só o encaixe com a venda de camisolas justificou, em dois ou três anos, a transferência de Ronaldo”, recordou, por sua vez, o economista Bastien Drut, convencido de que agora não será muito diferente, mesmo sabendo-se que neste particular o campeão de vendas é Lionel Messi, com perto de dois milhões de camisolas comercializadas anualmente.

Ainda assim, Cristiano Ronaldo rende ao Real Madrid e à Adidas (apesar do contrato com a Nike) entre um milhão e um milhão e meio de vendas todos os anos, o que se traduz numa receita na ordem dos 100 milhões de euros. Com este novo contrato, quando se prepara para confirmar a conquista da quarta Bola de Ouro, Cristiano Ronaldo é um dos raros casos com verdadeira “imagem de marca”, com valor económico acrescentado que “empresta” a qualquer clube que represente.

A impressionante presença nas redes sociais (117 milhões de fãs no Facebook, 48 milhões de seguidores no Twitter e 81 milhões no Instagram) torna-o num caso singular, a que nem David Beckham pode comparar-se. Ao contrário do inglês — também ele com passagens marcantes por Manchester United e Real Madrid, curiosamente com a camisola número 7 — Cristiano Ronaldo não diluiu a sua imagem.

“Beckham vendeu a imagem por todo o lado”, explica Lionel Maltese, sem dúvidas quanto à impressão digital deixada por Ronaldo, que perdurará em Madrid e no imaginário colectivo. Algo que não se explica apenas com os recordes ou com as médias de golo registadas desde 2009, superiores a um golo por jogo. Até porque o Real Madrid pode contar com o peso da “marca” Ronaldo nas negociações dos direitos televisivos (2019-22), onde entram as audiências, os resultados mas também um dado novo: o projecto de 400 milhões de euros, verba disponibilizada para uma operação de reinvenção do Santiago Bernabéu, cujas obras decorrerão entre 2017 e 2020.

O novo estádio “revolucionará”, de acordo com Lionel Maltese, toda a lógica do negócio-futebol e “prescindir de Cristiano Ronaldo nesta etapa, o grande ícone da última década no Real Madrid, seria um erro grosseiro”. 

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