O que escreveu a imprensa da época
A exposição de Amadeo nas suas duas versões - a do Porto e a de Lisboa - teve ampla cobertura. Os jornais, tanto os republicanos como os monárquicos, dedicaram-lhe muitos artigos e houve até quem o entrevistasse. Uns aplaudiram, outros chegaram a pedir que fosse internado.
“[…] O artista português Amadeo de Souza-Cardoso expõe à admiração do público os extraordinários frutos do seu génio criador. Ao entrar recuámos assombrados. Quanta luz, quanta alegria de vida, quanta vida mesmo e quanto movimento irrequieto em todos os quadros!!”
João de Sousa Fonseca, Jornal de Coimbra
“Aquilo não é ‘abstraccionismo’, é… ‘obstrucionismo’.”
A Montanha
“Paladino de uma nova e bizarra arte que pertencerá ao futuro, cheia de simbolismo, […] o artista constrói obras de uma originalidade surpreendente e imprevista, combinando traços rectilíneos e cores berrantes e fantasiosas, que a nossa vista habituada às formas clássicas da pintura antiga e moderna, recebe com surpresa e perante as quais o espírito se perde, tão grande é, por vezes, a subtileza da concepção do artista.”
Comércio do Porto
“As pinturas que o sr. Amadeo de Souza-Cardoso, cheio de influências das excentricidades de boulevard, trouxe até nós e que chocam profundamente os olhos, habituados a uma arte equilibrada e normal, encontram-se inteiramente fora da tradição plástica e devem contar-se entre os exemplares aberrantes de uma corrente que lá fora conta inúmeros adeptos.”
O Primeiro de Janeiro
“O jovem pintor com a sua estranha individualidade tem trazido o Porto em verdadeira revolução.[…] Todos os dias no Salão do Jardim Passos Manuel se agita uma multidão imensamente interessada, que, habituada a exposições mornas e apáticas, se manifesta agora numa exuberância de vida e exaltação constantes que só um talento poderoso e originalíssimo como o de Amadeo Cardoso conseguira despertar.”
O Dia
“[…] Para modernizar o público são necessárias manifestações de Arte Moderna. E esta é moderníssima.”
Jornal de Notícias
“[…] A primeira impressão que nos assoberba é de flagrante estranheza. As bruscas pinceladas, a confusão de linhas ziguezagueantes, a forte policromia, os arrojos de concepção filosófica ou científica da pintura, toda essa alucinação criadora, misteriosa, dir-se-ia esotérica, quase nos torna perplexos pelo inesperado. […] O sr. Amadeo de Souza-Cardoso não é, diga-se, um espírito vulgar.”
Jornal do Comércio e das Colónias
“Alguns desenhos seus [de Amadeo] (quando por acaso lhe ocorre desenhar) são bastante interessantes, com um carácter definidamente bizantino, conjuntamente rico e arrojado. Mas o resto… É como se metêssemos uma paleta guarnecida e pincéis nas mãos de um pequenito de três ou quatro anos e lhe disséssemos… para espalhar as tintas.”
Maria Arade, A Luta
"Certo pintor que se diz cubista, futurista e abstraccionista, resolveu fazer uma exposição dos seus esquisitíssimos trabalhos. Diz-se, porém, que ninguém o compreende... Está o pintor como dcertos políticos... Também não há ninguém que os perceba."
Opinião