O Germano é doutor

O jornalista e historiador Germano Silva recebeu, esta quinta-feira, o doutoramento honoris causa pela Universidade do Porto.

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Nelson Garrido
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Roubei o título ao David porque sei que ele não se importa e também porque ele estava lá, quando conheci o Germano Silva, na primeira redacção em que trabalhei, depois do estágio. O Germano andava por ali e eu, que era do Porto, mas pouco sabia da cidade, ficava horas a ouvi-lo contar as histórias deste lugar encantado que eu mal conhecia. Alguns colegas de redacção sorriam, sempre que, depois de mais um dia de trabalho, decidíamos ir jantar, e eu caminhava ao lado do Germano, ou ele se sentava ao meu lado na mesa escolhida. “Lá vais ter que o aturar”, diziam-me, a brincar. Mas eu não me importava. Porque o Germano já era doutor, um doutor gigante em tudo o que lhe saía naturalmente sobre este Porto que existe e aquele que já desapareceu. Que Porto era este de que ele falava como só fala quem tem um lugar gravado na alma, muito para lá de qualquer conhecimento aprendido em velhos livros e documentos? Nunca consegui deixar de me deslumbrar com as “aulas” do Germano, mesmo que fossem durante um passeio disfarçado de entrevista.

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Esta quinta-feira, a Universidade do Porto decidiu formalizar aquilo que todos os que convivem com o Germano já sabiam. Que ele é um doutor. Foi uma cerimónia bonita, e o Germano estava feliz. Antes de ele subir para o salão nobre da reitoria, fui espreitá-lo, com o Sérgio, à cabeça do cortejo da Academia. Os fotógrafos que captavam a felicidade do Germano não nos deixaram chegar ao pé dele e dar-lhe um abraço, mas estávamos suficientemente perto para ele ver como estávamos felizes com ele, no aceno que lhe deixámos. Quando o cortejo passou, aplaudimos, ruidosos, no exterior do salão, quebrando o protocolo. E, lá dentro, passei a cerimónia quase toda a chorar. Não fui a única. O Vasco, que me pediu um lenço de papel, confessou-me que chorou quase tanto como eu. Estávamos felizes e é bom chorar de felicidade.

O que me comoveu (e também ao Vasco, acredito) foi saber que o Germano merece, e perceber que, caso tão raro, o homenagearam na altura certa. Quando o Germano, com uns 85 anos que sabem a umas quantas décadas a menos, está cá connosco para gozar em pleno este doutoramento honoris causa e os belos trabalhos que o seu jornal de sempre, o Jornal de Notícias, lhe tem (e a todos nós) oferecido. O professor Luís Miguel Duarte, que ouvi entre lágrimas, fez o elogio do Germano, referindo-se, entre outras qualidades, à sua humildade e ao seu talento. Eu só queria dizer, parabéns e obrigada, Germano. Sem doutor. Porque sei que vais estranhar se te tratar por Dr. Germano.

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