Pode o Partido Republicano sobreviver a Trump?
Contra as indicações das sondagens, Donald Trump acredita que vai ter "vitória estrondosa". Se não conseguir, é o futuro do Partido Republicano que fica em jogo.
A última sondagem presidencial dos Estados Unidos é tão negativa para o candidato do Partido Republicano, Donald Trump, que a sua directora de campanha foi obrigada a admitir que as coisas não estão a correr bem. “Estamos a ficar para trás”, reconheceu Kellyanne Conway, perante o óbvio: segundo os números da ABC News, a candidata democrata Hillary Clinton abriu uma vantagem de 12 pontos, e atingiu o patamar dos 50% pela primeira vez (contra 38% de Trump).
Recuperar tantos pontos de diferença, nesta fase da corrida, seria algo de verdadeiramente inédito na política norte-americana. E embora ninguém o diga abertamente, no movimento conservador já só se espera que a derrota de Trump não seja tão humilhante que arraste os republicanos com ele. “Pode o partido sobreviver?”, questiona Edward Luce, no Financial Times.
Como escreve este especialista, a única coisa que poderá evitar a guerra civil entre os republicanos é uma vitória de Trump: o movimento conservador já está efectivamente fracturado em pelo menos três facções em choque permanente – os “nativistas-populistas” dominados por Trump, os democratas-cristãos que são as elites, e os libertários, tanto na sua variante clássica, como na encarnação do Tea Party. Como argumenta Luce, só a perspectiva do poder agrega estas três entidades distintas. Tendo em conta que a eleição de Trump é cada vez mais improvável, é legítimo perguntar se o partido conseguirá escapar ileso.
O problema para os republicanos não é ver Trump atrás na Florida ou no Ohio, onde há grandes variações na tendência de voto a cada ciclo eleitoral. O problema é que o seu candidato já perdeu a margem de segurança numa série de outros estados que há décadas votam solidamente em republicanos. É o caso do Arizona, do Utah, e até do Texas, onde o intervalo que o separa de Clinton já é menor do que a margem de erro das sondagens.
A confiança da equipa de Clinton é tal que a campanha fez um grande investimento no mercado publicitário do Arizona, onde a operação no terreno foi reforçada e para onde foram despachadas algumas das armas mais poderosas dos democratas: Bernie Sanders, Michelle Obama e Bill Clinton, o único democrata a vencer uma eleição naquele estado desde 1948.
O efeito para a campanha de Trump é catastrófico. Nesta fase da corrida, o candidato republicano não pode dispersar nem desviar recursos (tempo e dinheiro) para responder à ofensiva de Clinton e segurar o forte em terrenos que lhe são naturalmente favoráveis. O avanço de Clinton também obriga o Partido Republicano a rever a ambiguidade com que tem lidado com a candidatura de Trump e a escolher se vai gastar as suas fichas na operação para eleger o milionário, ou se tem de investir tudo na salvação das campanhas dos seus candidatos ao Senado e à Câmara de Representantes.
Na guerra pelos votos, a campanha republicana anunciou um novo “blitz” pelo estado da Florida, com Donald Trump a desdobrar-se em seis comícios em 48 horas para pedir aos seus apoiantes que “provem que tanto os comentadores políticos como as sondagens eleitorais estão errados” – e que a vitória no dia 8 de Novembro ainda é possível.
“Eu acredito que nós estamos à frente. E que vamos ter uma vitória estrondosa”, declarou o republicano, rodeado de abóboras de Halloween em Boynton Beach. “Claro que quem lê o New York Times e os restantes jornais falsos, desonestos e nojentos, não percebe o que eu estou a dizer, mas a verdade é essa: eu acredito que estamos a ganhar, no Ohio, no Iowa, na Carolina do Norte e aqui na Florida vamos ganhar por muito”, garantiu.
Não é o que os números indicam: o último inquérito, CBS/YouGov, dá 46% a Clinton e 43% a Trump. Mas no pensamento mágico do republicano, as sondagens são parte do sistema mediático “viciado” e fraudulento que “conspira” para a eleição da sua adversária.