Solange, mais do que mera irmã de Beyoncé

Solange consegue comunicar com o ouvinte de maneira tão particular quanto universal e fá-lo de uma forma intensamente pessoal.

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Ao terceiro álbum, vai mesmo deixar de ser “a irmã de Beyoncé”

O seu nome é Solange Piaget, mas é o nome de família Knowles que chama a atenção da maioria. Se mesmo assim não chegaram lá, lembrem-se que a celebridade Beyoncé tem o mesmo apelido. Isso mesmo, Solange, 30 anos, é a irmã mais nova de Beyoncé. Até agora tinha lançado dois álbuns e trabalhado como actriz, manequim ou bailarina, mas longe de ter alcançado o estatuto da mais velha.

A sombra da irmã não deve ser fácil de gerir apesar de ela ter personalidade própria. Não tem o seu vozeirão, mas cola bem num registo mais intimista, fazendo até agora música credível com influências da soul do antigamente (Supremes, Marvelettes) e da pop dos anos 1980, possuindo também algumas ligações privilegiadas com músicos de arenas mais alternativas (Dirty Projectors, Grizzly Bear).

Cranes in the sky
Don´t touch my hair

Agora, ao terceiro álbum, parece que vai mesmo largar o epiteto de irmã de Beyoncé, tal a maturidade que evidencia em A Seat At The Table, obra total que se ouve do início ao fim de um só fôlego. É um disco diferente dos seus dois anteriores. É ao mesmo tempo um testamento pessoal e comunitário sobre a experiência da negritude nos Estados Unidos, tanto ontem como hoje, congregando uma perspectiva individual, cultural e social.

Às vezes Solange oferece uma narrativa histórica, mas também abre espaço para a primeira pessoa, incorporando o passado da família, com interlúdios onde participam o pai e a mãe, mas em nenhum momento sentimos qualquer aproveitamento desenquadrado. Pelo contrário: sente-se que tudo é colocado ao serviço de uma visão emocional e artística justa.

Do ponto de vista musical abre-se languidamente à soul psicadélica, com uma série de convidados (Lil’ Wayne, Sampha, Tweet, Kelela, Q-Tip, The Dream, André 3000) a contribuírem para ampliar a sua fascinante voz. Ao seu lado, na co-produção, encontramos o nome de Rapahel Saadiq, que parece ter tido um papel relevante, contribuindo para que as canções, estruturas e melodias nunca sejam derivativas, assentes em instrumentação clássica ou aproximações menos expectáveis, marcadas por climas serenos, ritmos em câmara lenta e arranjos voluptuosos.

A maior parte das canções resiste ao ornamento inútil, revelando-se gradualmente de forma subtil e enxuta, e apesar da maior parte abordar temáticas conflituosas (segregação, orgulho negro, apropriação cultural), fá-lo sempre de uma forma elegante e emocionalmente íntegra. É um álbum onde Solange consegue comunicar com o ouvinte de maneira tão particular quanto universal e fá-lo de uma forma intensamente pessoal.

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