Galegos e bascos a votos com os partidos a fazerem contas para governar o país

Na Galiza, deverá manter-se a última maioria absoluta do PP e Sánchez sonha não ser ultrapassado pela En Marea. No País Basco, é Rajoy que faz contas a um possível apoio nacional dos nacionalistas

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Há muitas diferenças entre eleições autonómicas e legislativas em Espanha ANDER GILLENEA/AFP

Qual é a maior diferença entre umas eleições autonómicas e umas legislativas em Espanha? Daqui a uns tempos, quando voltar a haver Governo no país, talvez se multipliquem anedotas a começar com esta pergunta. Na verdade, suspeita-se, já há anedotas a começar assim. E como sempre com qualquer anedota, nem todos lhes acham graça.

Como a 21 de Outubro de 2012, vota-se este domingo na Galiza e no País Basco. Com excepção dos resultados esperados para os principais partidos nas duas regiões – o Partido Popular deverá manter a maioria absoluta na região onde nasceu o seu líder nacional, Mariano Rajoy, enquanto o Partido Nacionalista Basco voltará a ganhar, na mesma sem maioria absoluta – tudo o resto é diferente.

Há quatro anos, Rajoy esteve muito presente na campanha, mas o líder galego, Alberto Núñez Feijóo, só o quis a seu lado no encerramento. Temia-se, então, na Galiza, o contágio da crise nacional e da gestão do PP, com resgate a bancos, cortes na despesa e aumento de impostos, aquilo a que viríamos a chamar austeridade. Espanha, escrevia-se, estava prestes a pedir um empréstimo à UE e ao Fundo Monetário Internacional (afinal, fê-lo, mas só para recapitalizar a banca). Quatro anos depois, a austeridade fez escola e em Espanha, associada à corrupção e ao movimento de protesto 15M, provocou a implosão do sistema partidário tradicional.

Desta vez, Rajoy entrou em campanha na Galiza estando ele próprio em campanha – na prática, é assim que Espanha vive desde Dezembro de 2015, num momento em que ainda não é certo se será preciso realizar umas terceiras legislativas para ser formado um Governo em Madrid.

No comício de encerramento, em Vigo, o primeiro-ministro em funções pediu uma grande mobilização na Galiza e no País Basco “para vencer com total e absoluta segurança e não permitir que governem os extremistas e radicais”. Um discurso mais sobre o país – e uma possível coligação entre o PSOE e a aliança Unidos Podemos – do que sobre as regiões onde se vota este domingo.

Feijóo, que repetiu a maioria absoluta em 2012, depois de a conquistar em 2009, quando pôs fim à interrupção da gestão conservadora na região alcançada através de uma coligação dos socialistas com o Bloco Nacional Galego, não deverá deixar fugir o poder. Mas, como o próprio tem repetido: “Ainda não ganhámos”.

Estas são as primeiras autonómicas galegas em que o PP divide votos com o Cidadãos, de Albert Rivera, partido com muito pouca implantação na região que, ainda assim, conseguiu 134 mil votos dos galegos nas legislativas de Junho. A campanha do C’s centrou-se nos escândalos de corrupção que envolvem os populares e no desgaste de um partido que tem aqui a sua última maioria absoluta.

Todos os votos

À esquerda, o panorama autonómico também diz muito do que se passa no país. Se Feijóo perder a maioria absoluta, garantem os nacionalistas e assegura o En Marea (o movimento basco que integra o Podemos), estes partidos vão aliar-se para impedir que o PP governe – isto, juram, fiquem na posição que ficarem, sejam segunda, terceira ou quarta força (na Galiza, o chamado sorpasso, a ultrapassagem do PSOE pelo Podemos, tão temida pelos socialistas em Junho, já aconteceu quase há 20 anos, quando o BNG conseguiu ser mais votado do que o PSOE galego, em 1997).

Para o secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, acossado pelos rivais internos, todos os votos contam, da Galiza ao País Basco, ainda que os socialistas não esperem bons resultados em qualquer das duas eleições. E é para Sánchez, mais do que para a definição do próximo executivo galego, que importa realmente saber se o PSOE será o segundo ou o terceiro partido mais votado numa competição pessoal com a En Marea.

As eleições bascas são mais concorridas, cinco anos depois do abandono da violência pela ETA. O Partido Nacionalista Basco será o mais votado mas ficará quase de certeza em minoria, com qualquer coisa como um terço dos 75 deputados do parlamento regional. Em segundo deverá surgir a esquerda independentista do EH Bildu que concorre directamente com a versão basca do partido de Pablo Iglesias (Elkarrekin [Unidos] Podemos) que, tal como na Catalunha, defende o direito à autodeterminação. Tanto os socialistas como o PP vão perder votos e não esperam mais do que ser quartos e quintos mais votados.

Duas excepções

A Galiza e o País Basco são excepções nacionais diferentes e por motivos distintos, mas ambas estão bem melhor do que o resto do país quando falamos da saúde das suas economias e da qualidade de vida dos seus habitantes. Entre os bascos (que têm a autonomia mais alargada de toda a Espanha), o desemprego está nos 12,5% (é de 20% no país), e as despesas com saúde, por exemplo, estão muito abaixo da média nacional.

Para Rajoy, os bascos importam acima de tudo porque a soma dos deputados nacionais do PNB (cinco) aos que já reuniu (os 170 com que foi a votos no debate de investidura de Agosto) o deixam com 175 deputados e a apenas um da maioria absoluta. O PNB recusa apoiar um Governo do PP mas pode voltar atrás desde que Rajoy ofereça o suficiente (novas reformas territoriais, ainda mais descentralização; nesta fase, vale tudo para assegurar a formação de um executivo).

Há muitas diferenças entre eleições autonómicas e eleições legislativas em Espanha. Ao contrário do que acontece em Madrid, por exemplo, na autonomia basca chega uma maioria simples para governar. E está menos em causa – não se joga o poder ou o futuro de uma maneira tão decisiva –, pelo que se admitem com relativa facilidade compromissos de governação.

Uma grande diferença, entre legislativas e autonómicas e entre País Basco e Galiza, é o sistema eleitoral. Nas eleições nacionais, genericamente, os grandes partidos estão favorecidos graças ao método de Hondt. Os bascos votam com o sistema menos proporcional de Espanha por causa dos três territórios históricos em que se divide Euskadi (inscritos no Estatuto de Autonomia), cada um a eleger os mesmos 25 deputados, independentemente do número de eleitores.

Na Galiza, e isso ajuda a explicar por que é que esta é a última maioria absoluta que o PP conserva, o sistema eleitoral favorece os votos das províncias mais rurais (Lugo e Ourense), onde há menos população, contra os centros urbanos onde está a maioria dos eleitores (Corunha e Pontevedra). O bipartidarismo e a sobrevivência dos partidos tradicionais como mais votados tendem a durar mais no mundo rural do que nas grandes cidades. Se Espanha fosse Madrid ou Barcelona, Rajoy não estaria ainda a lutar pelo poder no país.

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