Cinco encontros, cinco respostas iguais: não é não, disse o socialista Pedro Sánchez a Mariano Rajoy, o chefe de governo em exercício em Espanha que parte com a certeza de uma derrota para a votação da investidura, na quarta-feira.

Rajoy, que levou o Partido Popular à vitória nas legislativas de Junho — as segundas em seis meses; em Dezembro, o resultado não permitiu a constituição de uma maioria e de um executivo —, insistiu em falar mais uma vez com o adversário antes do início, na terça-feira, do debate da investidura, para evitar um decalque do que se passou no final de 2015. Ouviu o líder socialista dizer que a reunião — que demorou escassos 30 minutos — não fazia qualquer sentido. “Foi perfeitamente prescindível”, disse Sánchez.

Só restava a Rajoy contra-atacar. Insistiu em explicar as consequências deste não do PSOE, falou na vergonha que será para a Espanha, dentro e fora do país, se os políticos não conseguirem formar um governo e atirou a responsabilidade por esse fracasso para cima dos socialistas em geral e de Pedro Sánchez em particular.

O PSOE e o seu líder, explicou o popular, rejeitam dar-lhe espaço de manobra, apesar de ter sido ele o indigitado pelo rei para formar governo e de ter conseguir um acordo de governação com o Cidadãos (de Albert Rivera) e com a Coligação Canária, o que lhe garante o apoio de 170 deputados. Rajoy disse ter conseguido cumprir a sua obrigação constitucional.

Uma bicada no socialista, que foi o primeiro líder a não conseguir passar uma votação de investidura, em Março, quando o quase pleno das forças políticas representantes nas Cortes votou contra si, incluindo toda a esquerda — à excepção do Cidadãos, que na altura firmou um pacto com o PSOE.

O problema é que 170 deputados não chegam. Na primeira votação, Rajoy necessita de maioria absoluta, ou seja, mais seis votos a favor. Na segunda, precisa de uma maioria simples, mas a sua investidura só será aprovada se conseguir que 11 deputados se abstenham.

Para Rajoy, É o PSOE quem tem “a chave” para a resolução da crise política. Pelo que será ele quem terá que dar explicações aos eleitores se o impasse se mantiver e emergir, mais uma vez, o cenário da repetição das legislativas, as terceiras num ano.

“Espanha precisa de um governo para consolidar a recuperação económica”, cumprir os compromissos com Bruxelas, ter orçamento para fazer o país funcionar e para acabar com a “anomalia” de não haver um governo com plenos poderes (apenas de gestão) depois de duas eleições, disse o chefe dos populares.

Como se chegou aqui, perguntou. Porque o segundo maior partido recusa autorizar o primeiro a governar, acusou, apesar de o PP ter eleito mais 52 deputados do que o PSOE  (137 contra 85) e de chegar à investidura com o dobro dos lugares dos socialistas, disse Rajoy.

Os jornalistas perguntaram a Mariano Rajoy se já falou, ou vai falar, com outros dirigentes socialistas além de Pedro Sánchez, uma vez que é sabido que o entre o PSOE há vozes dissonantes em relação a este “não é não”. “Não tem cabimento que eu ande por ai a agir à margem dos procedimentos normais. As pessoas devem respeitar as regras do jogo. Falei com o senhor Sánchez, que foi o escolhido pelos militantes do PSOE. E se alguma vez deixar de ser [o líder] falarei com o que me couber se eu também continuar por aqui”.

Sánchez, por seu lado, explicou que as decisões no PSOE são tomadas de forma colegial. E disse que só convocará o órgão directivo do partido para se pronunciar sobre a abstenção “quando houver dados novos que possam alterar a posição do PSOE”.

Se Rajoy falhar, irá Sánchez tentar a investidura? O líder popular disse não ter feito essa pergunta a Sánchez, mas lembrou que o socialista disse, anteriormente, que nunca aceitaria o apoio de um partido independentista (os catalães) para viabilizar um governo. Sánchez não se comprometeu: “A responsabilidade a seguir a 2 de Setembro continua a ser do senhor Rajoy. Se não for capaz, também será sua responsabilidade, não do PSOE”.

Rajoy assumiu que vai até ao fim no processo de investidura aberto com as eleições de Junho — se sexta-feira não houver governo, os partidos podem tentar novamente até 31 de Outubro, altura em que terão que ser marcadas novas eleições que o calendário oficial faz cair a 25 de Dezembro, dia de Natal.

“Vou continuar a tentar por responsabilidade. Apresentei-me às eleições como candidato de um partido que teve o apoio de oito milhões de espanhóis”, disse, sublinhando sempre que é o PSOE quem “tem a chave” do desbloqueio político. É por isso que continuará a falar com Pedro Sánchez. “Na primeira votação, na segunda e também depois” porque - sublinhou - “o diálogo nunca é prescindível”.