O independente Rui Moreira desafiou esta semana a vereadora e deputada socialista Carla Miranda a pedir ao secretário-geral do PS, António Costa, que a proponha como candidata à Câmara do Porto nas eleições autárquicas do próximo ano, para que os portuenses possam conhecer as suas ideias e projectos para a cidade.

“Peça ao secretário-geral do seu partido para a apresentar como candidata à Câmara Municipal do Porto nas próximas eleições. Acho óptimo. É uma forma simpática de nós, de facto, compreendermos quais são os seus projectos para a cidade e, nessa altura, consulte o PDM [Plano Director Municipal], porque, no fundo, aquilo de que está a falar existe”, declarou o autarca, deixando a vereação suspensa.

O desafio em tom de provocação foi lançado pelo presidente da câmara, na reunião do executivo de terça-feira, imediatamente a seguir à intervenção da vereadora durante a qual criticou o independente pelo facto de não ter um “plano estratégico” que permita a requalificação do espaço público, que contemple o estacionamento na cidade.

Rui Moreira foi demolidor, acusando a vereadora do PS de ser ignorante. Lamentou que desconheça que a cidade tem um PDM que, curiosamente, está a ser coordenado pelo vereador do PS, Manuel Pizarro, e que está em discussão pública. “Aquilo que a senhora está a falar existe, é o PDM, e que é exactamente aquilo que deve definir o espaço público, a utilidade, a mobilidade. Tudo isso chama-se PDM e como a senhora é vereadora, devia saber que o PDM está em discussão pública e com grande participação cívica”, sublinhou. Manuel Pizarro, o primeiro vereador do PS no executivo, gelou.

Dois dias antes deste ataque à única vereadora sem pelouros na Câmara do Porto, Rui Moreira disparou contra o próprio primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, no seu habitual comentário aos domingos no Correio da Manhã, no qual criticou a Lei das Rendas. “Esta nova política – com congelamento de rendas, com novas regras sobre o IMI, em que os municípios a quem a receita se destina nem sequer são ouvidos, com ameaça da criação do impostos sucessório – vai arrasar o frágil mercado de arrendamento e travar a reabilitação urbana. Quem, no seu perfeito juízo, optará por canalizar poupanças para um negócio em que o Estado altera as regras, rompe compromissos e despeja para o investidor as suas obrigações sociais?”, escreveu.

Desde que é presidente da Câmara do Porto este foi o primeiro ataque frontal a António Costa. E não é inocente. O independente não estará muito satisfeito com o desempenho de alguns vereadores do PS. A única excepção é Manuel Pizarro, que, nas palavras de uma fonte camarária, tem “tido uma “conduta irrepreensível” com Rui Moreira e tem estado ao seu lado praticamente em todas as causas que tem abraçado a favor da região e contra o Governo.

A eleição de Bragança Fernandes para presidente da distrital do PSD-Porto pode abrir a porta a uma proximidade entre o independente e os sociais-democratas, baralhando, assim, o jogo ao PS. Rui Moreira e Bragança Fernandes têm uma relação próxima e no partido há quem acredite que há condições para o eventual apoio do PSD ao independente nas autárquicas de 2017. De resto, Rui Moreira quis dar um sinal político ao PS - com quem tem um acordo de governação até ao final de mandato - de que nada está garantido, ao entregar recentemente pelouros ao vereador independente eleito pela lista do PSD, Ricardo Valente.

Com a sua base eleitoral intacta, Rui Moreira não olha para o apoio dos partidos como uma mais-valia eleitoral. E no caso do PS, o único lugar que estará garantido numa futura equipa liderada por Rui Moreira é o de Manuel Pizarro. No Porto, é cada vez menos claro que apoios Rui Moreira pode querer em 2017.