Em clima de festa, o Presidente não deixa de falar em contas, PIB e emprego
A promessa deste evento foi feita no final de Maio, na abertura da 86ª Feira do Livro de Lisboa.
Nos jardins do Palácio de Belém, há música de Chopin, bancas de livros e pessoas impecavelmente vestidas. A festa é para a família toda - há até espaços para os mais novos - e para todas as bolsas. Mas é a elite lisboeta que acorre à casa do Presidente no dia em que arranca a Festa do Livro prometida e anunciada por Marcelo Rebelo de Sousa há três meses. "Uma iniciativa extraordinariamente louvável”, anima-se Jorge Lacão, deputado e vice-presidente do Parlamento, em declarações ao PÚBLICO. Marisa Matias, a eurodeputada bloquista que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais vencidas por Marcelo, reforça: “Feiras do livro nunca são demais. É sobretudo uma bela ideia fazê-la aqui”.
O Presidente da República chega aos jardins à hora certa, como sempre. São 18h30 e vem acompanhado pelo Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e por João Amaral, presidente do organismo que ajuda a dinamizar a festa: a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Passeia longamente pelo recinto, parando para cumprimentar quem o interpela e para dar o ocasional autógrafo. Quando surge uma cara mais conhecida, oferece um abraço, como faz ao encontrar Francisco Louçã, ex-coordenador do Bloco de Esquerda, e António Filipe, deputado comunista. É na zona dedicada aos mais pequenos que Marcelo pára para ouvir um pedido especial de uma poetisa: uma rima para a palavra “eleita”. O Presidente não hesita em responder: “Perfeita. Olhei para si e inspirei-me.”
Em clima de festa cultural, Marcelo Rebelo de Sousa não perdeu, porém, a oportunidade para comentar assuntos de actualidade. "É um factor um pouco estranho nas contas, que o emprego esteja a subir. Está a subir mais que aquilo que os números do PIB mostram", sublinhou. E deixou pistas: "Portanto, ou afinal o emprego não está a subir tanto como isso e os números não são verosímeis, ou está mesmo a subir e isso quer dizer que o PIB pode subir além daquilo que parecia há 15 dias, há um mês ou há dois meses. Vamos ver.”
Durante a apresentação do livro “Eleições presidenciais, candidatos e vencedores. Portugal 1911-2016”, feita pelo Presidente da República e pela historiadora Elsa Santos Alípio, os elogios foram vários: aos funcionários do Museu da Presidência, pelo “toque intimista” da obra histórica sobre a Presidência portuguesa, aos presentes – como Ferro Rodrigues, que tem sido para Marcelo “de uma compreensão e espírito de convergência enormes” – e aos não puderam aparecer. O Presidente até teve uma palavra para o primeiro-ministro António Costa que, embora não tenha marcado presença, havia assegurado que tudo ia correr bem na iniciativa. “É sempre muito optimista”, disse Marcelo à audiência por entre risos. O elogio final coube à importância da leitura. "O livro é fundamental para o nosso país". Para o veterano comentador literário, qualquer pessoa com "um mínimo de sensibilidade cultural", seja qual for a sua orientação política, compreenderá a vitalidade de apostar nos livros.
Livros e muito mais
Entre esta quinta-feira e domingo, os jardins do Palácio de Belém estão abertos ao público nesta I Festa do Livro de Belém, uma espécie de complemento da feira do livro de Lisboa numa iniciativa conjunta da APEL e da Presidência da República.
“Junta-se o conhecido interesse de Marcelo Rebelo de Sousa pelos livros com a sua vontade manifestada e já cumprida de abrir o Palácio a visitantes, neste caso como pólo cultural”, explica ao PÚBLICO o assessor do Presidente para Assuntos Culturais, Pedro Mexia. Coube à APEL preparar a parte da feira, que conta com a presença de três dezenas de editoras, e à Presidência a programação cultural, dedicada a vários públicos.
Há um espaço para os mais pequenos, com contadores de histórias, jogos didácticos e música para bebés nas manhãs de sábado e domingo, há declamação de poesia ao fim da tarde, há música – o ponto alto é o concerto de Cristina Branco (sexta-feira às 23h) -, há cinema, com a exibição do filme autobiográfico de Manoel de Oliveira Visita ou memórias e Confissões (sábado às 21h30 e domingo às 21h).
E há debates, claro, com escritores e em torno de livros. José Tolentino de Mendonça e Frederico Lourenço discutem “A sabedoria dos livros” na sexta-feira; uma mesa redonda entre jovens escritores sobre “O que há de novo” no sábado e outra no domingo, sobre “Este país”, com Eduardo Lourenço, Fátima Bonifácio e Bernardo Pires de Lima. Sempre às 16h30.