Trump tem um adversário conservador, mas a maioria pergunta "quem?"
Chama-se Evan McMullin, tem 40 anos, e foi empurrado para as eleições pelo movimento conservador anti-Trump. Diz que quer ser uma alternativa ao magnata e a Hillary Clinton, mas poucos o conhecem.
A semana passada foi má para a campanha de Donald Trump, e esta também não está a começar da melhor forma. Do movimento de conservadores norte-americanos que não suportam Trump levantou-se um homem chamado Evan McMullin, que promete candidatar-se como independente nas eleições presidenciais e contribuir, na medida das suas possibilidades, para roubar alguns votos ao magnata do imobiliário.
A notícia foi avançada esta segunda-feira pela estação ABC e apanhou quase toda a gente de surpresa – na política norte-americana poucos sabem quem é McMullin e entre o eleitorado também não é nome que esteja presente na memória colectiva.
Evan McMullin apresenta-se na rede social Twitter como um antigo operacional da CIA, empresário e director de programas políticos na Conferência do Partido Republicano na Câmara dos Representantes – o órgão que vai transmitindo e explicando aos seus membros o programa político do partido. Na mesma pequena biografia anuncia o motivo da sua candidatura, que ainda não está confirmada oficialmente: "Apresento-me para concorrer a Presidente porque nunca é tarde de mais para fazer o que é correcto."
Esta manhã, antes da notícia avançada pela ABC, McMullin tinha pouco mais de 400 seguidores no Twitter, mas a meio da tarde já ia em quase 8000. A notícia foi também avançada por Joe Scarborough, um dos apresentadores do programa Morning Joe, da MSNBC, e alguns dos comentários sublinhavam o anonimato do suposto candidato: "Acho que até eu sou mais conhecido", escreveu o utilizador Roland Scahill; "Nem acredito que isto é notícia", criticou a utilizadora Suzanne Kelleher.
A campanha que Evan McMullin diz ter em curso inclui uma conta no Twitter, um site e contas no Instagram e no Facebook. A meio da tarde desta segunda-feira ainda não havia fotografias no Instagram nem mensagens no Facebook, mas o site já tinha um formulário para se deixar o e-mail e o código postal, como porta de entrada para a campanha "McMullin a Presidente".
Segundo a notícia da ABC, Evan McMullin, de 40 anos, é o rosto do grupo anti-Trump e anti-Clinton Better for America, cujo objectivo é, na verdade, empurrar para as eleições um candidato conservador que tente roubar votos a Donald Trump em estados de maioria republicana – a ideia é enfraquecer Trump, dando aos eleitores uma alternativa conservadora.
Esta estratégia é discutida há meses no movimento conservador anti-Trump, mas nunca surgiu nenhum nome de peso para fazer o papel que McMullin diz querer assumir agora. E outra estratégia – a de contestar a nomeação de Trump na convenção – também caiu por terra.
"Num ano em que os americanos perderam a fé nos candidatos dos dois grandes partidos, é tempo de uma nova geração de líderes se levantar. Nunca é tarde de mais para fazer o que é correcto, e a América merece muito mais do que aquilo que Donald Trump ou Hillary Clinton podem oferecer-nos. Apresento-me com humildade como um líder que pode ser uma alternativa para milhões de conservadores americanos", disse McMullin num comunicado enviado à ABC.
Numa reacção ao anúncio da candidatura, o porta-voz do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, Nate Hodson, disse apenas que a Conferência do Partido Republicano "não tem qualquer conhecimento das intenções dele", e avançou que McMullin já não faz parte daquele órgão do partido.
Se for mesmo para a frente, a candidatura de Evan McMullin enfrentará sérias dificuldades para ir a votos em todos os estados, porque o prazo de inscrição já expirou em muitos deles – o candidato teria de lutar nos tribunais para reverter esse processo. Este facto, somando-se à sua quase irrelevância política, faz com que o anúncio seja mais um momento mediático para abalar a candidatura de Donald Trump do que uma séria ameaça ao nomeado do Partido Republicano – segundo as sondagens, o candidato com mais possibilidades de desviar muitos votos que iriam para Donald Trump é Gary Johnson, do Partido Libertário.