Polícia vê "ligação evidente" entre atirador de Munique e Breivik
Ali Sonboly, 18 anos, vivia com os pais. Disparou contra jovens. A maioria das vítimas tem menos de 22 anos. Três são do Kosovo. Não há indícios de ligações do único atirador a movimentos islâmicos radicais.
Com grandes holofotes, a polícia de Munique ilumina uma zona do parque olímpico de Munique, onde há um cadáver no chão, coberto com um plástico. A cena é descrita assim mesmo pela edição online da revista alemã Spiegel, na manhã seguinte ao atentado de sexta-feira, cujas razões continuam por apurar.
O corpo que ali está é de Ali Sonboly, 18 anos, com nacionalidade alemã e iraniana, e que morava com os pais num apartamento situado em Maxvorstadt, na zona norte e a poucos quilómetros de distância do centro histórico da capital bávara. Na sexta-feira, cerca das 18h30 locais (17h30 em Portugal), Ali dirigiu-se ao centro comercial Olympia e começou a disparar contra pessoas que se encontravam no local. Entre as nove vítimas mortais, sete eram adolescentes. Três eram cidadãos do Kosovo, três tinham nacionalidade turca e uma grega, segundo indicaram as autoridades dos respectivos países.
Os pais, em estado de choque, não conseguiram ainda ajudar os investigadores. Mas depois de buscas na casa da família, o chefe da polícia de Munique, Hubertus Andrä, declarou que há “uma ligação evidente” com o norueguês de extrema-direita Anders Behring Breivik, autor do massacre de 77 pessoas em 2011. “Encontrámos elementos que mostram que ele se preocupava com questões ligadas ao ódio”, nomeadamente livros e artigos de jornais, adianta Andrä, citado pela AFP. Segundo o mesmo responsável, não foi descoberta qualquer relação com o jihadismo ou o Estado Islâmico.
O Ministério Público informou que Ali Sonboly estava a receber tratamento psiquiátrico devido a uma depressão. Alguns jornais referem que teria criado uma conta falsa no Facebook com o nome feminino de Selina Akim, e aliciado vários jovens a irem ao centro comercial com a promessa de lhes comprar presentes.
Um vídeo mostra um homem armado na cobertura de um parque de estacionamento, onde trocou palavras com alguém que estaria numa varanda próxima. Depois de lhe dizerem que era estrangeiro, responde: "Sou alemão, nasci cá". E terá informado que durante anos foi vítima de bullying.
Pouco passava das duas da manhã deste sábado (menos uma hora em Portugal) quando a polícia de Munique informou publicamente as suas suspeitas de que Ali seria o responsável por a Alemanha sofrer pela segunda vez em cinco dias com notícias de ataques contra pessoas em espaço público. No início da semana, segunda-feira, 18, um outro jovem atacou com um machado passageiros de um comboio, também na Baviera. Estabelecer qualquer relação entre estes dois actos é porém pura especulação.
Ali Sonboly andava na escola, perto de casa. Um vizinho da família declarou ao Bild, que “não o conhecia verdadeiramente”. “Um amigo meu era seu colega de turma e descreve-o com um rapaz calmo e calado. Reconheceu-o nos vídeos do ataque”, diz a mesma fonte, cuja identidade não é revelada por aquele jornal tablóide, o mais vendido na Alemanha. O alegado atacante não tinha cadastro criminal. Terá agido sozinho. E no final terá disparado contra si próprio.
Na primeira página da edição online do Süddeutsche Zeitung, sediado precisamente em Munique, os títulos traduzem a perplexidade com o sucedido. E deixam perceber que a cidade, o país, ainda não sabe explicar por que morreram dez pessoas, incluindo o presumível autor do atentado. “É tudo tão impensável”, declara Gabi Zöllner, natural de Colónia, mas residente há 16 anos em Munique, a este jornal. Poucos minutos depois do tiroteio mortal, Gabi saiu de casa para passear os cães. E só depois percebeu o que tinha acontecido. “Nem consigo imaginar o que se passou. Se tivesse saído dez minutos antes, teria estado no meio da confusão”, refere.
O balanço, neste momento, é desolador. Segundo a principal estação televisiva e radiofónica bávara, há dez mortos confirmados, incluindo o autor dos disparos. A maioria são jovens. “Duas raparigas e seis rapazes ou homens entre os 14 e 21 anos. Além deles, entre as vítimas mortais conta-se também “uma mulher de 45 anos”, diz a estação Bayerische Rundfunk, sediada em Munique e responsável pelo serviço público na Baviera. Além disso, há ainda 27 feridos, dos quais três em estado grave, segundo as autoridades locais.
A chanceler alemã, por seu lado, irá falar à imprensa às 14h30 locais (13h30 em Portugal), em Berlim. O Süddeutsche Zeitung acrescenta que os responsáveis do ministério do Interior e dos serviços de segurança interna vão reunir-se duas horas antes para avaliar a situação.
Neste sábado de manhã, a polícia bávara afirmou que quatro dos 27 feridos, que incluem crianças, apresentam ferimentos de bala. Confirmou que acredita que o atirador terá agido sozinho e rejeitou qualquer ligação deste episódio ao tema dos refugiados.