O “novo Homem de Ferro” é uma jovem mulher negra
Em prol da diversificação racial dos elencos da Marvel, Riri poderá vestir o fato de Tony Stark. O escritor Ta-Nehisi Coates foi também contratado recentemente para trabalhar no regresso de Black Panther.
A Marvel anunciou mais uma transformação socialmente sensível das suas personagens-chave: o Homem de Ferro, nascido Tony Stark, milionário caucasiano de sarcasmo na ponta da língua, poderá dar lugar a Riri Williams, a aluna-prodígio que conhece no comic Invincible Iron Man I, que deve chegar às bancas no Outono. O responsável é o argumentista que criou também o Homem-Aranha negro e hispânico e contribuiu para Jessica Jones.
Tudo acontece, como é normal nos complexos universos da Marvel e nas várias histórias especiais, paralelas ou alternativas dos seus mais conhecidos personagens, na sequência de uma série que cruza vários mundos dos super-heróis da editora. Em Civil War II – a sequela de uma série crossover de grande sucesso e cuja segunda tranche está prestes a terminar –, o Homem de Ferro original está desencantado e conhece Riri Williams, uma menina de 15 anos de capacidades intelectuais precoces, aluna do MIT, que consegue construir uma armadura à imagem do complexo fato bélico e voador de Stark, assim chamando a sua atenção.
Ainda não é certo que nome assumirá e qual será o cenário em que operará, muito para evitar spoilers, mas o Guardian escreve sobre uma passagem de testemunho “canónica” e o autor sobre uma jovem que “está muito à frente do que até Tony Star estava naquela idade”.
Em entrevista à revista Time, o argumentista Brian Michael Bendis falou na terça-feira sobre a nova personagem e sobre o rumo que a editora está a tomar na direcção da diversidade racial e de género das suas personagens. Nos últimos anos, e em alguns casos com a mão de Bendis, a editora tem apresentado novos perfis de personagens no cânone ou em histórias paralelas. Desde Miles Morales, o jovem negro de ascendência hispânica que toma o lugar de Peter Parker sob a máscara da aranha, à detective com força sobre-humana Jessica Jones (que é também uma série Netflix), passando por Thor enquanto heroína (Jane Foster). Há ainda Ms. Marvel (Kamala Khan, uma adolescente muçulmana), a latina e lésbica America Chavez ou Ms. America, o negro The Falcon como Capitão América e a contratação do jornalista Ta-Nehisi Coates, uma das mais vibrantes vozes da América negra actual, para trabalhar no regresso de Black Panther.
Além da Marvel, que a par da DC Comics é um dos dois gigantes dos comics mundiais, outras editoras estão a fazer um esforço pela diversificação dos seus “elencos”, sendo mais comum entre as chancelas independentes uma maior variedade entre as suas personagens. As críticas à forma como tal é feito quando não são personagens originalmente femininas, LGBT ou não-caucasianas são também frequentes, seja pela forma como atingem esse fim ou pelo desconforto de alguns ao verem os seus heróis mudar.
A inspiração de Brian Michael Bendis para Riri é uma jovem afroamericana que conheceu e cujo percurso o inspirou, explica à Time, lamentando que, apesar de estarem a diminuir conforme aumentam as novidades neste campo, ainda haja muitas críticas dos leitores à variedade imprimida aos rostos dos comics.
“As pessoas nem se apercebem de quão racistas soam”, comenta sobre a forma como os fãs reagem online a novas personagens ou ao recuperar de velhos heróis sob novas formas. Argumentando que “o mais importante é que a personagem seja criada num ambiente orgânico” e que não surja para preencher uma quota, reitera que “se inspira no mundo à volta e no facto de não ver algo suficientemente representado na cultura popular”. Contudo, como recorda o New York Times, a representação não é mais diversificada nos bastidores da indústria dos comics – segundo o blogue Mary Sue, há oito ilustradoras ou escritoras na Marvel para 81 homens nas mesmas funções, por exemplo.
Riri Williams é escrita por Bendis e desenhada por Stefano Caselli e a reacção à sua entrada em cena, depois de ter já sido vista em Civil War II, tem sido tanto parte do que Bendis classifica como uma “onda de amor” no acolhimento de personagens mais diversificadas, quanto criticada por ser escrita por um homem branco, por exemplo.