EUA investigam primeiro acidente fatal com Tesla em piloto automático
Sistema de identificação de obstáculos do Tesla Model S não distinguiu um camião branco de um céu brilhante. A colisão matou o condutor do veículo eléctrico.
Era um acidente à espera de acontecer – a indústria automóvel, a imprensa e o público apenas se questionavam sobre o ‘quando’. Foi a 7 de Maio, no estado norte-americano da Florida, que uma colisão envolvendo um carro autónomo (ou seja, que se conduz sozinho) resultou pela primeira vez numa morte. A vítima foi Joshua Brown, de 40 anos, o proprietário de um Tesla Model S que confiou ao automóvel a condução durante uma viagem. Agora, na quinta-feira, as autoridades norte-americanas anunciaram a abertura de uma investigação formal ao caso.
A notícia do acidente arrisca abalar a confiança dos consumidores na tecnologia de condução autónoma e penalizou já as acções da norte-americana Tesla, a mais entusiástica promotora deste sistema, que chegou a registar uma desvalorização de 3% no Nasdaq antes de inverter a tendência de queda. Outros gigantes tecnológicos ou da indústria automóvel, como a Google ou a General Motors, estão a investir na condução autónoma e o ano de 2020 tem sido apontado como data provável para o início da massificação da tecnologia.
A colisão que vem agora pôr em dúvida a percepção de que um computador guia de forma mais segura do que um ser humano aconteceu num cruzamento em Williston, perto de Orlando. O Tesla não activou o sistema automático de travagem e embateu num camião. De acordo com a fabricante do automóvel, o software do veículo falhou o reconhecimento do obstáculo ao não ter conseguido distinguir entre a cor branca do atrelado e um céu particularmente brilhante no momento do acidente.
Brown, que teve morte imediata, era um entusiasta da inovação no campo automóvel, tendo publicado ao longo dos últimos meses vários vídeos a elogiar o sistema de condução automática do seu veículo eléctrico. No vídeo mais recente, datado de Abril, o veterano da marinha norte-americana mostrava precisamente como o seu Tesla tinha evitado uma colisão potencialmente fatal numa auto-estrada ao identificar uma manobra perigosa de um camião.
“O Tessy (nome que Brown deu ao seu Tesla) portou-se muito bem. Tenho feito muitos testes com os sensores do carro e com as capacidades do software. O carro sempre me impressionou, mas ainda não tinha testado o sistema contra colisões laterais”, escrevia o proprietário do automóvel posteriormente envolvido no acidente fatal na Florida.
Num comunicado oficial, a Tesla lamentou a morte de Brown, mas defendeu a tecnologia, sublinhando que este foi o primeiro acidente fatal em mais de 200 milhões de quilómetros feitos por carros em piloto automático, e que o valor relativo a automóveis convencionais é duas vezes mais grave.
A capacidade opcional de condução automática está disponível no Tesla Model S desde 2014, mas existe ainda um vazio legal sobre esta tecnologia naquele que é o maior mercado automóvel mundial – os Estados Unidos. A investigação da Administração Nacional para a Segurança do Tráfego em Auto-Estradas (NHTSA, na sigla inglesa) surge a poucas semanas da aguardada publicação por aquela agência de um conjunto de recomendações para o ensaio de automóveis em piloto automático em vias públicas. As conclusões do inquérito podem ainda ter um impacto importante num debate que se encontra no início no que ao campo legislativo diz respeito, mas que já se desenrola há vários anos no meio académico.