Um inquérito à falta de inquérito na Caixa
A ideia de fazer uma comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa começa a ganhar forma.
Nas últimas semanas, perante notícias que dão conta das negociações entre o Governo e Bruxelas para injectar uma astronómica soma de quatro mil milhões de euros na Caixa Geral de Depósitos (CGD), muitos começaram a considerar a pertinência de os deputados fazerem uma comissão de inquérito parlamentar. A ideia seria analisar o que se passou no banco público nos últimos mandatos e levou a gestão de José de Matos a ter de constituir provisões gigantescas, que terão agora de ser pagas indirectamente pelos contribuintes.
O último a chamar a atenção para o assunto foi Marques Mendes que, no seu comentário semanal na SIC, questionou: “Então e na Caixa, onde o Estado já meteu em capital 2,4 mil milhões de euros (desde 2009) e ainda vai meter mais quatro mil milhões? De quem é a responsabilidade? Quem são os responsáveis? Onde está o dinheiro perdido? Fica tudo escondido?”
Percebe-se que o país não possa viver permanentemente de comissão em comissão para analisar os mandos e desmandos na banca. Já tivemos uma comissão de inquérito ao BCP, duas ao BPN, uma ao BES e estamos a ter duas no Banif, uma no continente e outra na Madeira. Mas se se injecta dinheiro público em bancos privados e depois se faz uma comissão de inquérito para apurar o que de errado se passou, por igual razão não se deveria fazer o mesmo quando se trata de dinheiros públicos e de um banco público? As sucessivas administrações da CGD cumpriram os critérios de prudência nos créditos que foram concedidos? Houve alguma outra motivação na concessão de crédito que não uma razão económica? O banco deu crédito para accionistas disputarem o poder noutros bancos concorrentes? O banco deu crédito a mando do poder político?
Se os deputados, não sabendo as respostas para estas perguntas, não convocarem uma comissão de inquérito para as esclarecer, então vale a pena inquirir os próprios deputados: querem proteger algum gestor que o poder político colocou na CGD nos últimos anos?