Salvem-se os bichos
É horrível saber que dois leões e um gorila foram abatidos para não fazerem mal, respectivamente, a um homem nu que quis suicidar-se e a uma criança vestida que caiu perto de um gorila com 200 quilos.
No mesmo dia vi o Zootopia de Bryon Howard e Rich Moore para a Disney. O filme é engraçado, como é também The Jungle Book de Jon Favreau. Ambos têm momentos de terror, lembrando-nos que a Disney sempre foi perita na exploração dos medos das crianças.
Todos os bons filmes da Disney são filmes de terror. O sentimentalismo - a utopia de todos nos darmos bem, sem riscos e sem hipótese de triunfarem os seres maléficos - é a esperança doentia que acompanha o medo verosímil dos bons serem assassinados pelos maus.
No Zootopia o terror, para além da apresentação realista da psicopatia das lontras, é a fantasia antropomórfica do filme ser politicamente correcto. Não é.
Para já, nenhum animal quer ser um ser humano que se veste e apanha transportes públicos.
Os seres humanos, à excepção do Mowgli que foi bem educado por lobos e por muitos outros "predadores", são, como mostra The Jungle Book de 2016, os piores predadores de todos porque gostam de matar outros predadores, incluindo os humanos, um a um.
Os seres humanos adoram matar, em massa, os outros animais que, por não serem humanos ou primatas ou em extinção, sobram ostensivamente. Em multidões. Vez após vez, através dos poucos milénios em que cá estivemos, vamos mostrando que a matança está-nos no sangue.