Custo do caso BPI não se esgota numa multa
O desfecho da guerra accionista no Banco BPI está a assumir proporções indesejáveis
O BPI passou o último ano a olhar para uma espécie de ampulheta que lhe foi impingida pelo Banco Central Europeu, que deu um prazo até 10 de Abril para que o banco pudesse resolver o problema da excessiva exposição ao mercado angolano. Caso contrário, ficaria sujeito a uma multa diária de 160 mil euros. Mas a resolução do problema nunca dependeu do banco, mas sim dos seus accionistas que esperaram pelo último dia para anunciar um acordo que nunca foi tornado público. E uma semana depois percebemos porquê. O dito acordo estava assente em pressupostos equívocos e numa desconfiança mútua e, como tal, não tinha pés para andar.
Aliás, no comunicado dos angolanos da Santoro, é dito de forma clara que os espanhóis estavam mais interessados em ficar com a maioria do capital do BPI do que em resolver a questão da exposição a Angola. E, para o Governo português, Isabel dos Santos também não é meiga, acusando-o de ter sido “declaradamente parcial” nesta guerra entre espanhóis e angolanos, insinuando que se aprovou uma lei à medida do caso BPI.
Numa coisa Isabel dos Santos parece ter razão. As semelhanças entre a lei das desblindagens e uma lei feita à medida são enormes. E não deixa de ser caricato que o Caixabank tenha avançado para uma OPA ainda mesmo antes de Marcelo Rebelo de Sousa ter promulgado a lei. Mas os argumentos esgrimidos pelos angolanos também pecam por não sugerirem em lado nenhum um esboço de solução que poderia resolver o impasse criado pelo BPI sem recorrer à via legislativa.
Pelo tom destemperado da discussão, o caso BPI arrisca transbordar a esfera financeira e ir parar à esfera diplomática e, tendo em conta os interesses económicos cruzados entre Portugal e Angola, as consequências poderão ser bem mais gravosas do que uma simples multa a um banco.