Catarina Martins avisa que BE não desiste de “acabar com a austeridade”
Na opinião da porta-voz do BE, "ou se criam as condições para que haja emprego em Portugal, uma economia que funcione e sirva quem aqui vive, ou o pouco que se conseguiu acabará por se desfazer".
A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, assegurou neste domingo que o partido nunca procurará "pretextos para fragilizar um acordo de maioria", mas avisou que não desiste do "passo essencial" que é "acabar com a austeridade".
No discurso do almoço comemorativo dos 17 anos do BE, em Lisboa, Catarina Martins admitiu que "o país não vive tempos fáceis" e que "o Bloco não está confortado com o que se conseguiu fazer até agora".
"Nunca procuraremos pretextos para fragilizar um acordo de maioria que quisemos, para o qual trabalhámos e trabalhamos a cada dia, porque sabemos ser essencial para parar o empobrecimento do país", assegurou, alertando que não desistem "do passo essencial" que é "acabar com a austeridade".
Na opinião da porta-voz do BE, "ou se criam as condições para que haja emprego em Portugal, uma economia que funcione e sirva quem aqui vive, ou o pouco que se conseguiu acabará por se desfazer", porque "não há atalhos para defender quem vive do seu trabalho, para defender democracia".
"Há confrontos que são inevitáveis e o Bloco de Esquerda cá está para juntar as forças para os fazer. Quem não viu a prepotência do governador do Banco Central Europeu, eleito por ninguém, vir dizer que as reformas que foram chumbadas nas eleições de 4 de Outubro são para continuar?", criticou, sublinhando que "respeitar a democracia está no oposto desta chantagem".
A força da política é, para a bloquista, "a força popular, mesmo quando a sua expressão eleitoral é curta". "Sem nunca sermos maioria no parlamento, fomos motor de tantas mudanças no país", afirmou, acrescentando que, apesar de se viver "numa realidade política diferente", se está "ainda muito longe da alternativa política de que Portugal precisa".
O antigo coordenador Francisco Louçã recordou que nas últimas eleições o Bloco só teve 10% dos votos, mas se tivesse tido mais do que 10%, "o Novo Banco não estava à venda, o governador do Banco de Portugal já tinha sido substituído por alguém competente, a dívida estava a ser abatida para proteger salários e pensões".
Na voz do fundador e ex-líder bloquista, "no tempo de uma política birrenta, o Bloco é um partido com que se conta", criticando o PSD por já só falar de autárquicas. "Ao Bloco não nos perguntam por eleições, mas certamente perguntam-nos pelo povo", referiu, salientando ainda que "no tempo da política do medo, o Bloco é o partido da rebeldia". Segundo Louçã, "no tempo dos recuos, em que nos dizem que nada é possível senão um jeitinho, o Bloco é o partido que não se desvia do seu caminho".
Num almoço que reuniu a 'família' bloquista, desde os três fundadores vivos - Francisco Louçã, Luís Fazenda e Fernando Rosas - aos novos dirigentes, passando pelos novos militantes, a expressão 'geringonça' foi trazida por João Semedo, o antigo coordenador do BE, que discursou pela segunda vez depois de um ano sem qualquer discurso público devido a um cancro nas cordas vocais que lhe chegou a retirar a voz.
"A única coisa que espero da direcção do Bloco é que consiga levar a geringonça mais longe, mas sempre pela faixa esquerda da estrada porque a geringonça ainda se vai rir dos derrotados que lhe puseram a alcunha", disse. João Semedo recorreu ao humor para falar do aparelho que lhe permite falar e confidenciou uma conversa que teve ao almoço com Catarina Martins. "Eu não me podia esquecer de afinar a minha geringonça. E eu respondi-lhe: está bem. Eu afino a minha e tu afinas a nossa", brincou.
“Dano para economia”
Catarina Martins afirmou ainda que o veículo de resolução do crédito malparado usado em Espanha teve "dano para a economia", mas garantiu que os bloquistas estão disponíveis para estudar as soluções apresentadas pelo Governo.
À margem do almoço comemorativo dos 17 anos do BE, a porta-voz foi questionada pelos jornalistas sobre a ideia defendida, num entrevista ao DN e à TSF, pelo primeiro-ministro, António Costa, de que seria "útil para o país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado".
"Nós sabemos que há um problema que tem que ser resolvido e o BE está disponível para estudar soluções. Essa é uma solução eventualmente possível, mas eu lembro que foi utilizada em Espanha com dano para a economia espanhola e para o erário público", recordou.
A líder bloquista vincou que há "imparidades de 40 mil milhões de euros desde a crise financeira da banca" e que "é necessário uma limpeza, uma reestruturação". "Estamos aqui para discutir as várias soluções, sempre com a exigência da defesa do interesse público de centros de decisões nacionais e da melhor protecção do erário público", reiterou.
No discurso durante o almoço, Catarina Martins teceu duras críticas à Comissão Europeia: "Diz que é contra a concorrência entregar um banco limpo com dinheiros públicos à Caixa Geral de Depósitos, mas já não há nenhum problema quando esse mesmo banco - o Banif - é entregue ao banco europeu que eles escolheram, o Santander".
"A concentração da banca europeia está a ser paga pelos países mais fragilizados. É um assalto e cheira mesmo a corrupção", acusou. Segundo a porta-voz do BE, "calar é consentir" e "consentir é participar neste assalto". "Defender Portugal exige a coragem de denunciar esta operação e recusar a perda dos centros de decisão nacional", apelou. Para Catarina Martins, "onde há dinheiro público, que mande o Estado".
"Vender o Novo Banco será repetir o erro BPN e Banif e ficar a ver o resto do sistema financeiro, e muito particularmente a CGD e o erário público, a sofrer as consequências desastrosas de mais um financiamento encapotado à banca internacional", alertou. A deputada do BE considerou ainda que "não se pode aceitar a proibição hipócrita da Comissão Europeia de recapitalização pública da Caixa Geral de Depósitos".
O tema do momento, o escândalo dos Papéis do Panamá, não ficou de fora da ementa do almoço, com a líder dos bloquistas a recordar que "há 17 anos, tantos quantos tem de vida, que o Bloco apresenta medidas para acabar com o assalto dos ‘offshores’ e seguir o rastro do dinheiro".
"PS, PSD e CDS votaram contra todas as propostas. Agora estão chocados com o escândalo dos ‘Panama Papers'. Antes terão ficado com o ‘Swissleaks', o ‘Luxleaks', com as comissões de inquéritos do BPN ou do BES. O centrão em Portugal vai de choque em choque a caminho do nada fazer", condenou.