Depois da China, Angola vira para o Ocidente
O pedido de ajuda de Angola ao FMI pode ser uma boa notícia, por diversas razões. Mas o seu fundamento não deixa de ser mau. E é mau porque evidencia que Angola não soube aproveitar os tempos do petróleo caro, e por via do qual recebeu muito, mas muito dinheiro, para diversificar a sua economia.
Mesmo depois da crise de 2008/2009, pouco se fez para evitar a dependência do petróleo, e fazer crescer de forma sustentável, e inclusiva, a economia angolana. O primeiro apoio do FMI ajudou não só às contas públicas, como também a uma ligeira melhoria da transparência (entrou alguma luz nas contas públicas).
Na altura, o apoio do FMI, com o conhecimento técnico (a eficácia das fórmulas é outra questão) foi também interessante porque representou um equilíbrio face aos empréstimos chineses que dispararam após o fim da guerra. Pago em petróleo, o dinheiro chinês não faz perguntas. Já o do FMI e dos países desenvolvidos coloca dúvidas, pede respostas e acções, e publica muitos dos resultados. Ora o que se estava a passar nos últimos tempos era precisamente um maior encosto de Angola à China (que passou Portugal como principal abastecedor, além de ser o maior cliente) .
Só na sequência de uma viagem de José Eduardo dos Santos a Pequim houve um empréstimo de seis mil milhões de dólares, sem que as contrapartidas sejam conhecidas. José Eduardo dos Santos pode querer depender menos da China, ou aplicar reformas internas com o respaldo do FMI. Mas a viragem a Ocidente é, de facto, um passo positivo. Falta ver se resulta.