O português envolvido no caso Panama Papers é um “magnata” em Vouzela

Idalécio Oliveira é o único português até agora envolvido no caso Panama Papers.

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O espaço de turismo rural de Idalécio Oliveira em Vouzela DR/Quinta do Fontelo

O único português citado, para já, no caso Panama Papers, Idalécio Oliveira, é um “enigma” no que diz respeito à sua vida, mas no concelho onde tem investido – Vouzela – é conhecido como uma pessoa de “bom trato” e “amigo da terra”. O empresário, com pouco mais de 60 anos, é tratado por ali como o “magnata”, mas nada faria prever o corrupio mediático que nesta segunda-feira se instalou à porta de sua casa.

É na Quinta do Fontelo, um espaço de turismo rural em Paços de Vilharigues, do qual a sua família é proprietária e que mandou construir há mais de 20 anos, que normalmente é visto, embora poucas vezes, quando está em Portugal. “A maior parte do tempo está fora do país”, contam na aldeia. 

Da sua vida pouco se sabe. Quem o conhece diz que foi casado (actualmente estará separado) com uma sobrinha de José Eduardo dos Santos, presidente da Angola, país onde esteve a trabalhar durante a guerra. Tem uma filha deste casamento. “Ele dizia que tinha lá [em Angola] umas oficinas e que era responsável pelo parque automóvel do Governo”, contou um antigo trabalhador seu em Portugal que optou pelo anonimato.

Já nessa altura a vida deste empresário era um enigma: “Dizia-se na aldeia que ele depois teve de fugir de Angola para outro país africano. Certo é que o homem vem de uma família humilde. O pai emigrou para a Alemanha, onde acabou por falecer. Ele lá se foi safando”, desvenda. O mesmo antigo trabalhador refere-se a Idalécio como uma pessoa muito viajada e que fala diversas línguas.

Na aldeia de Carregal, onde ainda vive o irmão e a mãe (agora num lar), o empresário é conhecido como o “magnata”. “Montou uma vacaria para o irmão e toda a gente sabe que ele tem muito dinheiro, mais do que isso é só conversa de adivinhação”, lembra uma habitante que, no entanto, frisa não ser “uma admiração” a associação do seu nome a operações offshore.  “Acho que nem os próprios filhos – tem mais dois de um primeiro casamento – sabem muito bem o que o pai faz”, admite.

Em Paços de Vilharigues, onde está localizada a sua quinta, a opinião de alguns habitantes é a de que “tanto o pai como o filho são pessoas muito ligadas à terra”. E até agradecem o “investimento” que ali têm feito. Além do espaço de turismo rural, onde a família gastou mais de quatro milhões de euros, o empresário está a pensar em avançar com a construção de um hotel de cinco estrelas, dizem.

Mas o currículo empresarial de Idalécio Oliveira dificilmente lhe daria o estatuto de magnata, pelo menos aquele que reportou em Portugal. Chegou a ter uma empresa ligada à agricultura e produção animal em seu nome, localizada em Vouzela, mas o negócio fechou sete anos depois, em 2010. De resto, aparece apenas como sócio da All 4x4, dedicada ao comércio de peças automóveis e onde têm assento também um dos filhos do primeiro casamento, Paulo Oliveira, e o irmão, Jorge.

Nos registos consultados pelo PÚBLICO, Paulo Oliveira tem morada no Rio de Janeiro, Brasil, e é casado com Helena de Oliveira, a empresária que surge como dona da Quinta do Fontelo. Na família há mais negócios ligados à hotelaria, ao ramo automóvel e à consultoria. Mas não há nada que se destaque, até porque são maioritariamente pequenas empresas, com poucos ou nenhuns trabalhadores.

Mas terão realmente sido os negócios de Idalécio Oliveira além-fronteiras a forçar a sua entrada no escândalo dos Panama Papers, já que é apontado como dono do conglomerado Lusitania Group, composto por 14 empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas. Os documentos revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação davam conta que vendeu, em 2011, à Petrobras metade dos direitos de exploração num campo de petróleo no Benin e foi aí que entrou no radar da Justiça Brasileira.

Relatórios consultados pelo PÚBLICO mostram que, pelo menos até 2013, Paulo Oliveira era o “director presidente” da Lusitania Geosciences, que seria o braço brasileiro das operações de Idalécio Oliveira. Mas os dados relativos à Lusitania Petroleum, dona da maioria do capital daquela empresa e sediada no Benin, não estão disponíveis. Actualmente, a Lusitania Geoscientes tem outra equipa de gestão, que não parece ter qualquer ligação familiar ao “magnata” de Vouzela.

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