Três cursos nacionais de Engenharia Civil estão entre os melhores do mundo

Universidades do Porto, Coimbra e Minho esperam que resultado no ranking QS ajude a convencer mais alunos a escolherem a carreira, depois da quebra na procura dos últimos anos.

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O número de alunos que escolheram a área caiu de mais de 1600 para 158 em seis anos Fernando Veludo/NFactos (arquivo)

Os cursos de Engenharia Civil das universidades do Porto, Coimbra e Minho estão entre os 150 melhores da respectiva área em todo o mundo. A avaliação é feita pelo ranking QS by subject, que elogia sobretudo a capacidade de investigação das instituições nacionais. Depois de seis anos consecutivos em que a procura destas formações esteve em quebra, os seus responsáveis esperam que o resultado internacional ajude a atrair mais alunos para a carreira, até porque, alertam, o país vai ter falta de engenheiros no médio prazo.

O QS World University Ranking by subject é uma das mais prestigiadas listas internacionais de instituições de ensino superior e foi publicada na semana passada. Este ranking avalia o desempenho das universidades em 42 áreas de conhecimento específicas. Ao todo, há 46 cursos superiores nacionais entre os 400 melhores das respectivas áreas, mas os principais resultados são na Engenharia Civil. O melhor resultado é conseguido pela Universidade do Porto, que está situada entre a posição 50 e 100 (é o 33.º melhor curso da Europa), seguindo-se as universidades de Coimbra e do Minho, no patamar imediatamente a seguir, entre os lugares 101 e 150.

Este resultado “dá muito alento” ao bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, que elogia as universidades nacionais por, mesmo num cenário de dificuldades financeiras e perda de alunos, não terem caído na tentação de “baixar o nível de exigência das suas formações”.

O reconhecimento internacional em rankings prestigiados é importante “para captar novos alunos”, reconhece o director do departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), António Silva Cardoso. Estes indicadores ajudam a passar a mensagem de que a engenharia portuguesa tem qualidade.

Cursos vazios

A quebra da procura dos cursos de Engenharia Civil tornou-se num problema crítico para o sector. O diagnóstico tem sido repetido nos últimos anos: a crise financeira que afectou de forma intensa o sector da construção fez aumentar a desconfiança dos estudantes e das famílias relativamente ao potencial de empregabilidade de uma formação em Engenharia Civil, fazendo com que os jovens fugissem desta opção. A obrigatoriedade de nota positiva nos exames de Física e Matemática, onde os estudantes nacionais têm tradicionais problemas, também afastou algum público potencial destes cursos. O resultado foi uma quebra vertiginosa do número de colocados no ensino superior.

Em 2008/2009 entraram mais de 1600 alunos em Engenharia Civil na 1.ª fase do concurso nacional de acesso. Esse número esteve sempre em quebra acentuada desde então e até 2014/2015, ano em que foram colocados 158 alunos nos cursos superiores da área. No início deste ano lectivo houve alguma recuperação, com a entrada de 333 estudantes. Ainda assim, dez cursos ficaram vazios — todos em institutos politécnicos. Só a Universidade do Porto preencheu a totalidade dos lugares.

Apesar de ter ocupado todas as 893 vagas no concurso nacional de acesso, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto “não ficou completamente imune” à crise de procura que atingiu a área, admite António Silva Cardoso. Aquele curso viu diminuir o número de estudantes que o indicaram como primeira opção de entrada no ensino superior. Essa foi, porém, uma realidade transversal a todas as formações superiores de Engenharia Civil, como sublinhava um relatório da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior publicado no ano passado, segundo o qual o número de estudantes a indicar este curso como primeira opção na candidatura a um lugar nas universidades e politécnicos públicos desceu de 1481, em 2008, em para 70, em 2014.

A lista QS by subject é publicada pela empresa britânica Quacquarelli Symonds usando indicadores da base de dados Socpus. São medidos indicadores como a reputação do ensino ou a capacidade científica das instituições, avaliando, por exemplo, o número de citações por artigo. É neste indicador que os três cursos portugueses de Engenharia Civil têm o seu melhor desempenho, com uma avaliação que fica perto da nota máxima (96,7 pontos no Porto; 93,4 no Minho; 85,8 em Coimbra, numa escala de 100 valores).

Uma das particularidades deste ranking é a avaliação da reputação dos diplomados de cada um dos cursos no mercado de trabalho. O desempenho das três instituições nacionais não é tão positivo como nos indicadores científicos, mas fica, ainda assim, acima da média nas universidades do Porto (66,7) e Coimbra (60,9). A Universidade do Minho tem um desempenho pior e não vai além dos 45,9 pontos.

Engenheiros precisam-se

O bastonário da Ordem dos Engenheiros não tem dúvidas de que “a engenharia portuguesa é bem cotada no estrangeiro” e os engenheiros formados pelas universidades nacionais “facilmente encontram trabalho em economias fortes”. Essa tem sido, de resto, uma saída para muitos recém-formados, mas também para engenheiros seniores, que encontram fora do país oportunidades que escasseiam em Portugal por causa da crise, mas também um pagamento mais elevado.

De acordo com dados da Ordem dos Engenheiros, saíram de Portugal, entre 2011 e 2014, 1893 engenheiros, que representavam 4,3% dos inscritos. A tendência começou desde então a inverter-se, mas ainda são na casa das centenas os engenheiros que todos os anos saem do país, rumo agora sobretudo ao Reino Unido, Noruega e Alemanha, depois de os mercados de Angola, Moçambique e Brasil terem perdido a capacidade de atracção que tiveram nos anos anteriores.

A saída de engenheiros do país e as poucas entradas de novos alunos no ensino superior estão a criar condições para que, no médio prazo, Portugal vá ter falta de profissionais qualificados nesta área. “Daqui a cinco a dez anos vai haver um défice significativo de engenheiros”, avalia o director do departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra, Álvaro Seco.

No ano passado, aquela universidade fez um estudo comparativo com outros países da dimensão de Portugal e concluiu que será necessário formar 700 e 800 novos engenheiros civis todos os anos para responder às necessidades do país. Neste momento, estão a entrar menos de metade desses alunos nos cursos da especialidade.

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