Concentração de operacionais jihadistas detectada desde o Natal

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REUTERS/Yves Herman

Desde há três meses que diversos serviços de informação europeus vinham detectando a concentração de operacionais jihadistas em diversos países, apurou o PÚBLICO.

Foi a partir do Natal que este movimento foi perceptível pelas “secretas” e serviços de segurança, razão pela qual os atentados desta manhã no aeroporto e metro de Bruxelas não surpreenderam os investigadores.

Os peritos contactados pelo PÚBLICO referem que a concentração de operacionais, incluindo jovens que correspondem ao perfil dos denominados “combatentes estrangeiros” do autoproclamado Estado Islâmico (EI) que actuaram na Síria e no Iraque, se realizou nos seus países de origem aos quais regressaram.

A Bélgica, França, Alemanha e estados nórdicos, como a Suécia e a Dinamarca, foram os países de origem da maior parte destes operacionais. E, a partir do último Natal, foram igualmente o destino destes regressados. O que veio confirmar os receios que têm sido expressos pelos serviços de segurança europeus sobre os movimentos dos “combatentes estrangeiros” quando as suas posições na Síria e em território iraquiano começaram a ser fustigadas pelas forças da coligação internacional.

Em Portugal, os atentados desta terça-feira não motivaram alterações no alerta moderado, o mesmo nível de segurança que já vigorava antes da matança de Paris de 13 de Novembro passado. “Não há razões para alterar o grau de ameaça em Portugal”, é a posição das autoridades portuguesas.

Apesar destes regressos a vários países europeus, os especialistas salientam, também, que os atentados cometidos na Europa são uma pequena parte dos planeados. Ou seja, que existe uma taxa de sucesso na prevenção e investigação das acções jihadistas.

Contudo, a realidade é preocupante. “O jihadismo global está mais estendido do que nunca”, admitiu recentemente Fernando Reinares, investigador principal do terrorismo internacional do Real Instituto Elcano de Espanha. “Os atentados de Paris foram uma das possíveis expressões que o jihadismo global pode ter na Europa Ocidental, é um fenómeno que está no auge”, destacou este perito.

Reinares recordou em recente conferência no Instituto de Defesa Nacional que, embora o continente europeu seja a actual área geográfica de recrutamento dos grupos jihadistas, não é o seu objectivo primordial. “Esse continua a ser o Médio Oriente e África, e o alvo a que se dirige são os muçulmanos”, referiu.

Na Europa, a mobilização jihadista foi em crescendo desde 2012. “O número de combatentes terroristas estrangeiros oriundos dos países europeus e enviados para a Síria e ao Iraque aumentou a partir de então, ao ponto de os europeus a combater no EI serem um quinto do total dos combatentes estrangeiros”, revelou Fernando Reinares.

“O EI está a proporcionar uma ideologia e um roteiro de vida a milhares de jovens que não se acomodam nas sociedades onde vivem”, destacou. Por isso, abraçaram a causa jihadista e, muitos deles, voltaram à origem pelo Natal.  

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