Coreia do Norte desafia o mundo e lança foguetão de longo alcance

Comunidade internacional teme que em causa esteja o ensaio para um novo míssil balístico. Conselho de Segurança reúne de emergência este domingo.

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A imagem do foguetão captada a partir da cidade fronteiriça chinesa de Dandong Reuters/Kyodo
 Um soldado norte-coreano na base de Sohae numa foto de arquivo datada de 2012
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Um soldado norte-coreano na base de Sohae numa foto de arquivo datada de 2012 AFP/Pedro UGARTE

A Coreia do Norte lançou às primeiras horas da madrugada deste domingo o anunciado foguetão de longo alcance que transporta o que Pyongyang diz ser um satélite de observação da Terra, mas que a comunidade internacional teme que seja um novo míssil balístico, num claro desafio às Nações Unidas e às sanções que proíbem o regime norte-coreano de usar este tipo de tecnologia militar.

Segundo o Ministério da Defesa sul-coreano, o lançamento foi feito às 9h locais (00h30 em Lisboa) a partir da base de lançamento de mísseis de Dongchang-ri, no Ocidente do país. Uma fonte do Departamento de Defesa norte-americano também confirmou o lançamento à agência Reuters e avançou que a trajectória não representava uma ameaça directa para os Estados Unidos ou qualquer um dos seus aliados. 

Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão pediram de imediato uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que vai ter lugar na tarde deste domingo em Nova Iorque. Este encontro acontece numa altura em que estavam já em preparação novas sanções contra Pyongyang, anunciadas como “mais extensas e significativas”.

As reacções chegaram de todos os lados. O secretário de Estado norte-americano John Kerry denunciou uma “violação flagrante” das resoluções da ONU, Tóquio considerou o lançamento “absolutamente intolerável”, Moscovo falou de um acto “muito danoso” que Londres condenou “com firmeza”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon considerou o lançamento “profundamente deplorável” e a Presidente sul-coreana, Park Geun-Huye, exigiu ao Conselho de Segurança “medidas punitivas fortes”. Paris pediu “uma reacção rápida e severa da comunidade internacional”.

A Coreia do Norte tinha avisado há dias as Nações Unidas de que pretendia lançar um foguetão para transporte de um satélite algures entre 8 e 25 de Fevereiro. As reacções internacionais a este anúncio foram de imediato repúdio — governos e outras organizações vêem este lançamento como o teste de um novo míssil balístico, uma tecnologia que, até certo ponto, se assemelha aos foguetões.

Imagens de satélite obtidas na última semana pelos Estados Unidos da base militar norte-coreana de Sohae, a partir de onde já foram lançados outros mísseis, mostram o que pareciam ser tanques de combustível junto a uma rampa de lançamento. “No passado verificou-se este tipo de actividade uma a duas semanas antes de um lançamento, pelo que isto seria consistente com a janela de tiro do anúncio feito pela Coreia do Norte”, dizia o think tank 38 North, que monitoriza o que se passa no país de Kim Jong-un, num relatório divulgado nessa altura.

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Imagem de satélite da base de Sohae captada a 4 de Fevereiro Reuters/38 North

Na última sexta-feira, numa conversa telefónica mais tarde divulgada pela Casa Branca, os presidentes chinês, Xi Jinping, e norte-americano, Barack Obama, concordaram que o ensaio de um míssil balístico pela Coreia do Norte representaria “uma acção provocante e desestabilizadora”. Os dois líderes sublinharam a “importância de uma resposta internacional forte e concertada às provocações” de Pyongyang, "incluindo através de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de grande impacto”. 

O lançamento deste domingo acontece apenas um mês depois de a televisão estatal norte-coreana ter anunciado, a 6 de Janeiro, a detonação “muito bem-sucedida” de uma bomba de hidrogénio. A notícia gerou reacções firmes em vários pontos do mundo — para além do cepticismo de vários especialistas — e terá deixado o Governo chinês, que não recebeu qualquer aviso prévio de que este ensaio iria acontecer, particularmente inquieto

A agência de informação oficial chinesa Xinhua já veio dizer que o lançamento deste domingo pode agravar as tensões na península coreana e apelou à calma de todas as partes envolvidas para evitar uma escalada militar na região. 

A Coreia do Norte está impedida pelas Nações Unidas de testar qualquer tipo de tecnologia balística ou nuclear, embora ao longo dos anos tenha sucessivamente ignorado as proibições. O regime conseguiu pela primeira vez pôr um satélite em órbita no final de 2012. Logo aí alegou ter-se tratado de uma operação científica, mas a comunidade internacional encarou-a na altura — como agora — como um teste encapotado a mecanismos de propulsão que possam no futuro lançar um míssil de longo ou médio alcance armado com uma ogiva nuclear.

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Pyongyang conseguiu pela primeira vez pôr um satélite em órbita em 2012 REUTERS/KCNA

Seul e Washington discutem defesa antimíssil
Numa primeira reacção prática ao acto desafiante da Coreia do Norte, o Ministério da Defesa sul-coreano anunciou a abertura de conversações oficiais com os Estados Unidos para a instalação na Coreia do Sul de um sistema de defesa antimíssil norte-americano destinado a enfrentar a ameaça de Pyongyang, ao qual a China e a Rússia se opõem firmemente.

A perspectiva de instalar na Coreia do Sul um sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defense), um dos mais avançados do mundo, tem sido regularmente evocada ao longo dos últimos anos. Para Washington é uma arma de dissuasão essencial para fazer frente ao programa em desenvolvimento de mísseis balísticos da Coreia do Norte. Mas Pequim e Moscovo dizem que se trata de uma ameaça à estabilidade da região, susceptível de provocar uma corrida ao armamento.

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