Ai Weiwei tapa esculturas com mantas térmicas para apoiar os refugiados

Artista chinês cobriu a instalação Zodiac frente a um museu de Praga. Diz que este é apenas mais um "gesto" pela "dignidade" de todos os que arriscam a vida no Mediterrâneo para chegar à Europa. E sem poupar críticas ao governo checo.

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Ai Weiwei frente a uma das esculturas de Zodiac coberta com uma manta térmica semelhante às que são distribuídas aos refugiados Michal Cizek/AFP

Desta vez Ai Weiwei decidiu pegar num objecto que para muitos era estranho até as imagens de milhares de migrantes nas ilhas do mar Egeu terem começado a inundar as redes sociais, os noticiários televisivos e as páginas dos jornais – mantas térmicas.

Para voltar a alertar para a crise dos refugiados, e para os riscos e o sofrimento que enfrentam todos aqueles que deixam a Síria, o Afeganistão ou a Eritreia num esforço desesperado para chegar à Europa, o artista e activista chinês cobriu várias das esculturas que expõe na capital da República Checa no âmbito das comemorações dos 220 anos da Galeria Nacional de Praga.

Foi frente às 12 esculturas de bronze que compõem a instalação Zodiac — cabeças de animais feitas para recriar o zodíaco tradicional chinês —, revestidas naquele material dourado e prateado muito leve que as equipas de salvamento deslocadas para as ilhas gregas distribuem aos refugiados para prevenir ou combater sintomas de hipotermia, que Ai Weiwei voltou a criticar a falta de uma resposta adequada da Europa. E isto, lembra o diário espanhol ABC, sem poupar a República Checa, que acusa de estar a contrariar os princípios de um dos seus maiores pensadores, o dramaturgo, filósofo e antigo Presidente Vaclav Havel, que morreu em 2011.

Referindo-se ao facto de o governo de Praga ter aceitado receber apenas 153 refugiados, todos cristãos do Iraque, quando desde inícios de 2015 já morreram afogadas no Mediterrâneo mais de 4000 pessoas, Ai Weiwei disse aos jornalistas: “Para mim [esta postura checa] é uma surpresa. Este tipo de atitude vai contra o que o nosso pensador [Vaclav] Havel disse sobre a responsabilidade moral.” E para que não restassem dúvidas a quem o ouvia sobre o que defendia este político e escritor que foi um grande activista dos direitos humanos e da democracia, o artista precisou: “[Havel disse que] só a responsabilidade moral garantirá uma sociedade democrática e de direito. Estou totalmente de acordo.”

Nos últimos meses, o artista chinês tem-se multiplicado em iniciativas de apoio aos refugiados, responsabilizando os governos de alguns países e mesmo as instituições europeias por aquele que diz ser um cenário cada vez mais dramático. Cancelou exposições na Dinamarca em protesto contra a nova lei que permite confiscar aos refugiados que chegam às suas fronteiras bens sem valor sentimental que ultrapassem os 1340 euros; recriou a imagem de Alan Kurdi, o menino sírio de três anos que morreu afogado e cujo corpo foi fotografado numa praia da Turquia, provocando uma onda internacional de indignação; manteve um estúdio aberto na ilha de Lesbos onde passou dias e dias a documentar a chegada dos refugiados em testemunhos e fotografias que depois publicava nas suas contas do Facebook e do Instagram, onde tem milhares de seguidores.

Com esta nova acção na República Checa — hoje as cabeças de Zodiac já deverão estar destapadas —, Ai Weiwei quis apenas fazer mais um “gesto” na “defesa da dignidade dos refugiados”.

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