Laurent Fabius, o rosto da cimeira de Paris
Alguns dos principais personagens da conferência da ONU que aprovou um novo tratado para travar as alterações climáticas.
Laurent Fabius, o condutor impecável
Normalmente, as conferências anuais da ONU sobre o clima são presididas pelo ministro do Ambiente do país anfitrião. França preferiu conferir a missão ao ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, que se tornou, sem sombra de dúvida, o principal rosto da cimeira de Paris. Preparou tudo ao milímetro, com muita antecedência. Pôs a potente máquina diplomática francesa em campo nos quatro cantos do mundo ao longo de um ano. Junto com o ministro do Ambiente do Perú, Manuel Pulgar-Vidal, que presidiu a cimeira anterior em Lima, bateu à porta de todos os países e conseguiu que 185 entregassem à ONU, antes da conferência, os planos do que poderiam fazer para ajudar na luta climática. Na cimeira em si, adoptou um método de trabalho transparente que garantiu que todos seriam ouvidos, em todos os momentos, com o conhecimento de todos. Com isso, procurou evitar um dos grandes ingredientes do desastre da cimeira climática Copenhaga, em 2009, quando a presidência dinamarquesa negligenciou a necessidade de dar voz a todos, resultando em plenários caóticos e inconsequentes. Com a sua experiência política, Fabius conduziu pessoalmente as principais reuniões. Não faltaram elogios à sua prestação, que muitos consideraram impecável. França apostou tudo no sucesso da cimeira. E mesmo com a atenção divida com os trágicos atentados de 13 de Novembro, Fabius conseguiu.
John Kerry, os EUA com nova face
O secretário de Estado norte-americano está mais acostumado a falar com presidentes e primeiros-ministros. Mas veio a Paris pessoalmente para dar impulso a um acordo. A meio da segunda semana, fez uma intervenção contundente, dizendo que a ciência era clara quanto aos riscos das alterações climáticas, que os “cépticos” não viviam neste mundo e que era preciso agir já para conter o aquecimento global. Sem surpresa, deixou todos os recados e exigências dos Estados Unidos – incluindo a da recusa de quaisquer metas vinculativas. Mas fê-lo com a retórica de quem está do lado certo. Na madrugada de quinta-feira, surgiu sem aviso numa reunião negocial com mais de 200 pessoas, numa presença de enorme peso simbólico. Obama também veio à cimeira, na sua abertura, e exerceu a sua influência em contactos telefónicos com outros líderes, a partir de Washington. Mas Kerry roubou-lhe o protagonismo e consolidou a nova face dos EUA na arena climática, que ainda há poucos anos era a de vilão.
Miguel Cañete, à procura da liderança
Desde o desastre de Copenhaga que a UE procura uma nova forma de se afirmar como líder nas negociações climáticas. Perdeu ainda mais este papel quando a sua histórica preferência por metas vinculativas, de cima para baixo, foi derrotada por um novo modelo em que cada país diz o que pode fazer. Em Paris, recuperou o ego ferido ao ter vários ministros seus a presidirem grupos de negociações e fomentarem soluções de compromisso. O comissário para a Acção Climática e Energia, Miguel Arias Cañete, teve o seu momento de protagonismo, ao surgir de mãos dadas com os países mais pobres, reclamando mais ambição no acordo de Paris e conseguindo atrair outras nações, incluindo os Estados Unidos e o Brasil.
Izabella Teixeira, flexibilidade entre os emergentes
O Brasil deixou a sua marca em Paris ao distanciar-se, de certa forma, dos seus parceiros do grupo Basic – África do Sul, Índia e China. O país chegou com a sua receita tradicional de reinvindicar os direitos do mundo em desenvolvimento, defendendo a bifurcação entre pobres e ricos criada com a convenção climática da ONU de 1992. Mas a ministra do Ambiente, Izabella Teixeria, apresentou-se com um discurso muito mais flexível do que o dos seus parceiros do Basic, em favor de um compromisso. No final, o país ainda juntou-se à aliança por maior ambição, da UE e dos países mais vulneráveis.
Xie Zhenhua, o negociador sorridente
O chefe da delegação chinesa, o experiente Xie Zhenhua, tem uma característica simpática: é bem humorado. Trouxe a Paris uma China diferente, menos relutante em embarcar em compromissos. O país quer se livrar da sufocante poluição das suas cidades e modernizar a sua indústria. Já percebeu qual é o caminho a seguir e vê na agenda climática a possibilidade de ser um protagonista global. Na tarde de sábado, antes da aprovação formal do acordo de Paris, a China já tinha anunciado que o aceitava.