Clima: depois das metas, cairá o quê?
As metas na redução de emissões caíram. O que mais cairá, na Cimeira do Clima em Paris?
Num momento em que estão ainda por resolver problemas essenciais na Cimeira do Clima, como a diferenciação dos compromissos entre os países pobres e os países ricos e o financiamento aos mais vulneráveis, soube-se que, afinal, o acordo de Paris não terá metas de redução de emissões, mas apenas uma espécie de apelo às boas vontades. A nova versão do acordo, que continua em discussão, aponta apenas para a “neutralidade” das emissões de CO2 na segunda metade deste século, de modo a conter o aumento da temperatura da Terra “bem abaixo dos 2ºC” e “fazer esforços” para um limite mais ambicioso, de 1,5ºC. Este “fazer esforços”, em lugar de estabelecer metas, acaba por ser uma fórmula elástica que tanto permite um real esforço na redução das emissões como desculpas pelo seu não-cumprimento. Mais de vinte horas de negociações redundaram, para já, nisto, que não é brilhante. As propostas anteriores iam de uma quantificação clara de objectivos (40-70% ou 70-95% de redução de emissões até 2050, em relação a 2010) até à simples menção a um objectivo de “baixas emissões globais a longo prazo”, à sua “neutralidade” ou à “descarbonização” da economia ao longo do século XXI. Mais uma vez, conceitos vagos que permitem consensos mas não resolvem problema algum.
Claro que a ausência de metas numéricas foi, na mesa de negociações, uma moeda de troca para um novo limite de aumento de temperatura considerado aceitável – coisa que era exigida pelos países mais vulneráveis – e a “neutralidade” já acordada significa que poderá haver emissões de gases com efeito de estufa, desde que sejam compensadas com medidas favoráveis ao clima, como florestas ou armazenamento de CO2. Mas o essencial, nestas últimas horas da cimeira, será a repartição de responsabilidades e de esforços. E o embate entre países ricos e pobres mantém-se. Veremos como se resolverá, agora que as metas foram substituídas por algo menos… incómodo.