Egipto está a analisar imagens do aeroporto em busca de movimentos suspeitos
Equipa que investiga queda do avião da Metrojet revela que caixas negras registaram um barulho no último segundo da gravação, mas insiste que não chegou ainda a qualquer conclusão
As autoridades egípcias estão a analisar os vídeos de segurança do aeroporto de Sharm el-Sheik para tentar detectar eventuais actividades suspeitas que possam estar relacionadas com a queda do avião da Metrojet, que há uma semana se despenhou no Sinai com 224 pessoas a bordo. É o indício mais claro até agora de que também o Cairo se inclina para a possibilidade de um atentado, mesmo que oficialmente insista que é ainda cedo para avançar as causas do acidente.
“Queremos determinar se, por exemplo, alguém passou através dos agentes de segurança ou dos detectores de metais” instalados no aeroporto, disse à Reuters responsável egípcio. A mesma fonte adiantou que o visionamento permitirá também apurar “se houve algum tipo de actividade pouco habitual entre os polícias ou os funcionários do aeroporto” – a conivência de alguém interno à segurança do aeroporto é uma das hipóteses levantadas por quem suspeita que na origem do desastre tenha estado uma bomba, levada dentro de uma mala ou colocada por alguém directamente no porão do avião. O grupo jihadista Península do Sinai, o braço armado do Estado Islâmico no Egipto, reivindicou o abate do avião (uma informação que é repetida em comunicações interceptadas pelos EUA), mas não revelou o método que teria usado.
Recusando entrar no jogo das especulações, o chefe da equipa que investiga o acidente reafirmou neste sábado que os peritos estão a analisar “todos os cenários” mas não chegaram ainda a “nenhuma conclusão” sobre o que provocou a queda. Sete dias depois da queda do avião, Ayman el-Mokaddem disse que há ainda partes da fuselagem do avião que não foram localizadas – os destroços estão espalhados ao longo de 13 quilómetros no deserto do Sinai, o que é “consistente com uma desintegração em pleno voo”, afirmou.
Mas se não há conclusões, há indícios que se avolumam. Mokaddem revelou que no último segundo da gravação da caixa negra que regista as vozes no cockpit é audível “um barulho” de origem indeterminada. Para identificar a natureza desse barulho foi encomendada uma “análise de espectro a laboratórios especializados”.
Desde a véspera que os media franceses noticiam, citando os peritos do país que participam nas investigações, que os registos de voos permitem “privilegiar fortemente” a hipótese de atentado. À AFP uma dessas fontes assegurou que, até ao 24º minuto de voo, “tudo decorria com normalidade”, mas no instante seguinte as duas caixas negras deixaram simplesmente de funcionar, o que indicia “uma despressurização explosiva” a bordo do avião. Outro responsável adiantou que a análise à caixa negra que regista os dados de voo sugere o carácter “violenta e repentina” do incidente que ditou a queda do Airbus. Acrescentou que as fotos mostram destroços crivados de impactos que vão de dentro para fora, “o que dá força à tese de um engenho explosivo” colocado a bordo.
O Egipto, preocupado com as repercussões que o incidente já está a ter no sector do turismo, queixa-se que nenhum governo estrangeiro partilhou com os seus serviços de segurança as informações que os levaram a suspender ou restringir os voos para os aeroportos do país. Sameh Shoukri queixa-se também que a pressa de vários países para retirar os seus cidadãos do país contrasta com o silêncio internacional às propostas que o Egipto tem feito para melhorar coordenação no combate ao terrorismo jihadista, que desde 2013 ganha força na Península do Sinai.
Moscovo, que na véspera suspendeu as ligações aéreas com o Egipto, enviou neste sábado 44 aviões para repatriar os primeiros dos 79 mil turistas russos que estão no país. Numa tentativa para evitar o caos em que se transformou a operação de repatriamento dos 20 mil turistas britânicos (que segundo as últimas contas de Londres deverá demorar dez dias), a Rússia afirma que os turistas serão retirados nas datas em que era suposto terminarem as suas férias, regressando ao país em voos com segurança reforçada e sem bagagens, as quais só mais tarde serão enviadas.
Incidente em Agosto
Um nova informação surgida neste sábado sugere que os riscos de segurança no Sinai eram, há já algum tempo, maiores do que os governos e as companhias aéreas admitiam. O jornal britânico Daily Mail noticiou neste sábado que, em Agosto, um avião da companhia aérea Thompson foi obrigado a uma manobra de evasão depois de o piloto, na aproximação à pista de Sharm el-Sheik, ter detectado um míssil na rota que o avião seguia. Segundo o jornal, o projéctil passou a cerca de 300 metros do aparelho, que tinha partido do aeroporto londrino de Stansted com 189 pessoas a bordo.
O Departamento de Transportes britânico confirmou já o incidente, que lhe foi comunicado pela tripulação mal o avião aterrou. Adianta, no entanto, que as informações que foram recolhidas levaram à conclusão que o míssil não visava o avião, mas teria sido disparado no âmbito de manobras militares de rotina do Exército egípcio contra os jihadistas do grupo Península do Sinai.
O jornal Guardian recorda que as companhias aéreas estão actualmente proibidas de sobrevoar a região a menos de 26 mil pés de altitude, a fim de estarem a salvo dos rockets portáteis em poder dos combatentes. O avião russo voava, no momento em que desapareceu dos radares, acima desse limiar, o que levou os investigadores a descartar a hipótese de os jihadistas terem abatido o aparelho a partir do solo.