PS à espera de Costa para decidir candidatura à Câmara do Porto

Ao fim de dois anos de mandato, os socialistas interrogam-se: vai o PS apresentar uma candidatura própria ao Porto em 2017, rompendo o acordo de quatro anos com Rui Moreira ou convida o independente a liderar a sua lista.

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Adriano Miranda

Os socialistas do Porto estão a acompanhar com redobrada atenção o desfecho das negociações entre o secretário-geral e os partidos à esquerda do PS, com vista à formação de um governo que António Costa se prepara para apresentar ao Presidente da República.

Os estatutos do PS são claros quanto à convocação de eleições para as federações nos 120 dias imediatos após a realização das Legislativas e, neste momento, já há muita gente a pensar nas autárquicas de 2017, que assumem particular importância no Porto. De certa forma, as eleições para a distrital do Porto cruzam-se com as autárquicas e a questão é saber se o PS está disposto a renunciar a uma candidatura própria em 2017, optando por apoiar o independente Rui Moreira, que hoje preside ao município, ou, se o PS deve ir a votos apresentando um candidato forte e disputar as eleições com o actual presidente, que em 2013 foi eleito com o apoio do CDS.

Mas esta tese que defende que o cenário ideal seria ter Rui Moreira a liderar a lista do PS como independente começa a fazer algum caminho. Rui Moreira já deixou claro numa entrevista à Visão que nunca será candidato por um partido.

A questão não é consensual, razão pela qual José Luís Carneiro, líder da distrital quer envolver o secretário-geral do PS na decisão que vier a ser tomada. Na opinião do vice-presidente do grupo parlamentar do PS, a questão é demasiado delicada para deixar de fora o líder do partido. “É preciso ver como é que a situação política a nível nacional evolui e se António Costa vai ser chamado para formar governo”, afirma, vincando que as negociações terão outro peso político caso Costa seja primeiro-ministro e líder do partido. Esta tese é também defendida por alguns aqueles que em 2013 aplaudiram o acordo político pós-eleitoral subscrito entre Rui Moreira e o vereador do PS, Manuel Pizarro, para assegurar a governabilidade da Câmara do Porto.

Na altura, Fernando Jesus e Manuel dos Santos, que integravam o secretariado da federação, criticaram com veemência o acordo, alegando que o mesmo “tornaria o PS irrelevante nos próximos quatro anos na segunda cidade do país” e que “as consequências políticas seriam desastrosas”. Nos termos deste acordo, foram atribuídos pelouros a Manuel Pizarro e a Manuel Correia Fernandes. Sem responsabilidades ficou a vereadora Carla Miranda.

Um dirigente socialista declarou ao PÚBLICO que “é impossível o PS disputar as eleições autárquicas contra Rui Moreira. É um sonho lunático”. Acrescenta, por outro lado, que “o trabalho que os socialistas estão a fazer na câmara aproxima os eleitos”. Mas este dirigente vai mais longe ao afirmar que “não podemos ver a política sempre de acordo com os padrões tradicionais. Não é um sacrilégio o PS não apresentar uma candidatura ao Porto”.

É com este pano de fundo que no Porto as eleições para a maior distrital do partido vão decorrer. Ao contrário do que aconteceu o ano passado, desta vez muito dificilmente haverá lista única. Em 2014, Carneiro empenhou-se para que houvesse apenas uma lista e a sua determinação vingou, depois de ter chegado a um entendimento com o então líder da concelhia, Manuel Pizarro. Mas nem tudo correu bem ao longo do seu mandato e muitos dos seus apoios incondicionais caíram depois do episódio da lista de deputados que deixou de fora muita gente que lhe era próxima. A lista, recorde-se, viria a ser avocada pelo secretário-geral.

 

Pizarro e Eduardo Victor não fecham a porta

Apoiante de António José Seguro na disputa interna das primárias, o deputado assume que ainda não pensou se vai disputar um novo mandato, mas a sua entrada na corrida é dada como certa. Fontes socialistas garantiram ao PÚBLICO que o líder do PS-Porto anda no terreno tentando perceber se tem apoios suficientes para avançar. Seja como for, não será candidato único.

Manuel Pizarro e Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da Câmara de Gaia, são os dois nomes apontados para disputar os votos dos militantes do distrito do Porto. Para já, Manuel Pizarro não se compromete com uma candidatura, mas também não a afasta até porque encontra vantagens na coligação que o PS fez com Rui Moreira. E nesse sentido, subscreverá sempre uma proposta que afaste uma candidatura do partido, jogando tudo no apoio ao actual presidente,  ao contrário do outro bloco que se empenhará em fazer vingar a tese de que sendo o PS governo será vantajoso haver uma candidatura própria.

Eduardo Vitor, que foi mandatário de Carneiro nas últimas eleições para a federação, confirma, em declarações ao PÚBLICO, as movimentações que estão a ser feitas para a distrital, mas considera prematuro falar-se das eleições no partido quando o “país está no impasse em que está”. “Essas pessoas correm o risco de partir cedo de mais e arriscam-se a ficar pelo caminho”.

Deixa claro que a sua “prioridade é Gaia” e admite que “haja pessoas melhor colocadas para avançar”, no entanto, não fecha a porta a essa eventualidade. De resto, aproveita para deixar um lamento: “O partido está a sofrer muito pelas ambições pessoais de algumas pessoas. É preciso alguma tranquilidade. Estes dias são cruciais para o país e a mim mete-me pena ver todas estas movimentações ”. E apela ao diálogo: “Este é o tempo de criar pontes e não de dividir”.

As feridas que se abriram há um ano e meio entre apoiantes de Costa e os de Seguro estão ainda por sarar e as movimentações que estão a acontecer para as eleições para a distrital reflectem bem essa fractura. Mas todos concordam numa questão: está na altura de se fazer uma “auto-avaliação” do trabalho do partido na Câmara do Porto, de forma a perceber se as propostas do PS que foram sufragadas nas eleições autárquicas estão a ser postas em prática.

Ontem, os vereadores do PS com pelouros atribuídos reuniram-se para prestar contas à cidade do trabalho feito ao longo destes dois anos. Foi numa iniciativa sem nenhuma formalidade política, realizada no Palácio do Bolhão e organizada pela concelhia do PS. Já a pensar em 2017, Manuel Pizarro diz:“ Agora é preciso fazer uma avaliação do resultado final desta coligação ao fim de quatro anos e ver da possibilidade de preservar as ideias do PS num segundo mandato autárquico”.

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