Justiça espanhola aperta cerco aos filhos de Jordi Pujol
Polícia realizou 15 buscas a casas e escritórios em Madrid e Barcelona. Principal alvo é o filho mais velho do antigo Presidente da Generalitat.
Durante três horas agentes da unidade anticorrupção da polícia espanhola passaram a pente fino a casa de Jordi Pujol e de três dos seus filhos. As buscas não visam directamente o antigo presidente da Generalitat mas apertam o cerco ao clã que durante décadas dominou a política catalã.
As buscas – que se alargaram a escritórios da família e a residências de empresários com quem mantinham ligações suspeitas – foram ordenadas pelo juiz da Audiência Nacional de Madrid que lidera as investigações contra Jordi Pujol Ferrusola, o filho mais velho do antigo líder político. Era ele o gestor das contas que a família possuía há mais de 20 anos em Andorra, à revelia das autoridades tributárias espanholas.
Júnior, como é conhecido na Catalunha, foi acusado (tal como o pai, a mãe e cinco dos seus irmãos) de fraude fiscal e branqueamento de capitais, mas o juiz José de la Mata quer agora perceber se na origem da fortuna guardada no principado estão comissões ilícitas pagas por empresários a troco da atribuição de obras públicas.
Foi com esse objectivo que Madrid solicitou a Andorra os documentos sobre as contas que a família ali possuía – milhares de páginas que, adianta o jornal El País, listam centenas de operações e movimentos suspeitos realizados por Pujol Ferrusola. Dados que deverão agora ser cruzados com as caixas de documentos apreendidas durante as buscas desta terça-feira.
Além de Pujol Ferrusola, a polícia visitou a casa da sua ex-mulher e dos irmãos Josep e Pere, mas não foi efectuada qualquer detenção. A residência de Jordi Pujol, no centro de Barcelona, só foi revistada porque é aí que Júnior está a convalescer de uma intervenção cirúrgica a que foi submetido, adianta a imprensa. No entanto, o El País escreve que, entre os documentos enviados por Andorra, está uma declaração assinada em 2001 pelo antigo presidente da Generalitat na qual diz ser seu o dinheiro depositado numa conta que tinha o filho como titular. Para os investigadores, tal prova que Pujol mentiu quando, em Julho de 2014, declarou que os milhões que tinha em Andorra eram uma herança que recebeu do pai.
Pujol, o nome que muitos catalães se habituaram a identificar como principal referência do nacionalismo, é um activo cada vez mais tóxico para os independentistas, numa altura em que Barcelona e Madrid se enredam numa luta política e judicial pela criação de um Estado independente e se multiplicam os casos de corrupção envolvendo a Generalitat. Há vários anos que os seus filhos estão a ser investigados por suspeitas de tráfico de influência, corrupção e fuga ao fisco, mas a queda em desgraça de Pujol consomou-se em Julho do ano passado quando finalmente admitiu que tinha contas no estrangeiro que nunca declarara ao fisco.
O caso contra Pujol Ferrusola – desencadeado pela denúncia de uma antiga namorada que o acusou de entrar em Espanha com “malas com notas de 500 euros” – corria em Madrid de forma autónoma das investigações ao resto da família, lideradas pela procuradoria de Barcelona. Mas as autoridades entendem que só coordenando os dois processos será possível apurar a origem da “fortuna amealhada pelos filhos do ex-Presidente da Generalitat”. As buscas desta terça-feira, realizadas em simultâneo das duas cidades, podem ser um primeiro sinal dessa fusão.