Activista angolano em greve de fome transferido para hospital-prisão
Luaty Beirão não come há 20 dias e está em estado grave.
Já há vários dias que Luaty Beirão não consegue sequer ingerir líquidos, tinha revelado a família. “Está entre a vida e a morte”, tinha dito ao PÚBLICO na quinta-feira Walter Tondela, advogado de 12 dos 17 detidos sob suspeita de tentarem derrubar o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos. Este sábado, “vários familiares estão à porta do hospital-prisão, mas sem que lhes tenha sido permitida a entrada”, diz-se na página do Facebook sobre a situação do activista.
A televisão oficial TPA citou representantes dos Serviços Prisionais dizendo que Luaty Beirão, activista e músico, conhecido no meio artístico como Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuzx, “mantém os sinais vitais dentro dos parâmetros, está consciente, está orientado” e apresenta a debilidade esperada para alguém que fica tanto tempo sem se alimentar. A família, no entanto, não acredita nestas declarações. Soube que ele chegou de maca ao hospital-prisão. “Se dizem que ele está bem, porque então foi transferido para o hospital-prisão? É contraditório”.
"O Luaty pode morrer a qualquer momento. Numa greve de fome devia ingerir três litros de água, quando nem meio litro consegue. Os órgãos já começam a deixar de funcionar e todos os dias apresenta um quadro diferente", disse Mónica Almeida, casada com o activista e rapper, citada pela agência Lusa.
A TPA começou também a transmitir imagens de Luaty Beirão, tentando entrevistá-lo, perguntando-lhe se não está preocupado com a sua saúde. "Admiro a persistência, mas não vou falar", diz o rapper, nas declarações emitidas pela televisão pública angolana, sem data.
Luaty Beirão faz parte do grupo de activistas conhecido como 15+1, detidos desde 20 de Junho, acusados pelo Ministério Público de estarem a preparar um golpe de Estado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos. A acusação só foi formalizada no início do mês, depois do prazo de 90 dias da prisão preventiva ter sido ultrapassado.
Estas prisões desencadearam um amplo movimento de solidariedade, dentro e fora de Angola mas que não fez mover, até agora, nem a justiça nem a clemência do Presidente da República.
O jornalista e activista angolano Rafael Marques publicou uma carta dirigida a Luaty Beirão, no seu site Maka Angola – Luaty meu herói – em que diz compreender a sua luta, porque ele próprio passou 14 dias sem comer quando esteve preso em 1999, “por ter chamado ‘corrupto’ e ‘ditador’ a este mesmo Presidente”.
“O Luaty tem a seu favor os sinais da mudança. O seu sonho por uma Angola sem a procuradoria do Presidente, mas ao invés com um sistema de justiça ao serviço de todos os angolanos, pode estar mais perto do que pensamos ou queremos admitir. O Luaty tem também a seu favor as redes sociais, a juventude cada vez mais consciente, mas sobretudo a sua extraordinária convicção. Eu sou mais estratégico, o Luaty é puro na sua forma de pensar e agir. Agora peço-te, Luaty, meu amigo, irmão e meu puto (porque tratas-me sempre por kota e este é o meu troco): lê esta mensagem e, lentamente, volta a comer…”, escreveu Rafael Marques a 9 de Outubro. Não é a primeira vez que toma posição pública em defesa destes prisioneiros.
Na noite de sexta para sábado realizou-se mais uma vigília por Luaty Beirão, e este sábado decorre outra, na igreja da Sagrada Família, em Luanda, a partir das 17h30 locais.