Uma rotina dolorosa e tenebrosa

O ataque a um colégio no Oregon relançou o debate sobre a posse de armas nos EUA

"De certa forma, isto tornou-se rotina. A cobertura dos media tornou-se rotina. As minhas declarações aqui, neste palco, acabaram por se tornar rotina. E a resposta daqueles que se opõem a qualquer lei razoável acabou por se tornar rotina." De que está a falar Barack Obama? À primeira vista, parece estar a discursar sobre algo bastante banal, corriqueiro, de somenos. Mas o tom de terror na voz e a expressão de consternação mostram que Obama está a falar de algo bastante mais sério.

Esta semana fomos surpreendidos com mais um massacre num colégio nos Estado Unidos, desta vez na pacata na cidade de Rosenburg. Segundo a CNN, o homem que matou nove pessoas tinha em sua posse um autêntico arsenal bélico: três pistolas, uma espingarda e um colete antibalas. Para os americanos, infelizmente, este não é um caso único.

Obama desafiou os jornalistas a compararem o número de pessoas mortas em ataques terroristas nas últimas décadas nos EUA com o número de pessoas mortas pela violência por armas no país. E assim fez a comunicação social. A média anual de mortos por violência com armas de fogo supera os dez mil (sem contabilizar suicídios e acidentes com armas de fogo). E as vítimas de ataques terroristas, à excepção do 11 de Setembro, foram quase todos os anos zero ou perto de zero.

Então por que é que se gasta biliões todos os anos para combater o terrorismo, e não se consegue mudar uma simples lei anacrónica, de 1971, que resulta da Segunda Emenda à Constituição e que protege o direito de os americanos terem armas de fogo, com pouco ou nenhum controlo? Obama fala com a autoridade de quem, em 2012, depois do massacre na escola primária de Sandy Hook, tentou por todos os meios, juntamente com Joe Biden, mudar a lei. O Congresso e a poderosa Associação Nacional de Armas não deixaram. Resta fazer um apelo ao bom senso; mas até isso já se transformou numa tenebrosa rotina.

Sugerir correcção
Comentar