Jerónimo insiste nas culpas de PS, PSD e CDS pelo “afundamento” do país

CDU arranca a campanha eleitoral com grande comício no Coliseu dos Recreios. Jerónimo de Sousa desenhou o quadro das diferenças entre a coligação de esquerda e PS, PSD e CDS, acusou serem todos iguais.

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Jerónimo de Sousa no Coliseu dos Recreios Daniel Rocha
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Num Coliseu dos Recreios muito animado e composto mas não completamente cheio, como já aconteceu em campanhas anteriores, o líder da Coligação Democrática Unitária (CDU) esboçou um quadro completo do que a opõe à coligação de direita e ao PS. Antes, também Heloísa Apolónia, d'Os Verdes, e Corregedor da Fonseca, da Intervenção Democrática, haviam feito discursos no mesmo sentido.

Heloísa Apolónia havia catalogado o PS como uma “espécie de genérico: tem o mesmo princípio activo do PSD e CDS”, ainda que o medicamento que representam seja contra-indicado para “curar” o país. E acusou os partidos de direita de "traírem o povo sem qualquer pudor". "Não hesitaram em massacrar a vida ao povo português e agora vão pedir-lhes o voto?", questionou admirada.

São dois lados da barricada: de um está a CDU que fez propostas que os três partidos chumbaram sucessivamente na Assembleia da República; do outro os que aumentaram o desemprego, a dívida e a pobreza, implementaram medidas de austeridade, cortaram salários e pensões, destruíram o Estado social, depauperaram serviços públicos, como a saúde e a educação, continuam a submeter-se aos ditames da União Europeia - enumerou Jerónimo de Sousa, entre outras críticas.

“Sim, chegámos onde chegámos em resultado das suas opções de política europeia e nacional, dos seus acordos tácitos, das suas conivências e arranjos, da sua política de submissão nacional e de restauração monopolista”, apontou o comunista, criticando a “moral de gato” de socialistas, sociais-democratas e centristas. “Podem empurrar uns para os outros, dizerem e desdizerem tudo o que fizeram. Nada pode apagar a sua comum responsabilidade nas feridas sociais que abriram na sociedade portuguesa.”

Mas isto não vai ficar por aqui, fez questão de avisar Jerónimo de Sousa. “Aí estão todos tão empenhados a tentar limpar a folha das suas responsabilidades, a pôr o conta-quilómetros a zero, a encobrir as suas reais intenções em relação ao futuro. ” Porque os programas dos três maiores partidos são “projectos de mais exploração e empobrecimento”.

O líder do PCP fez uma comparação rápida dos programas da coligação e do PS em questões fundamentais como Segurança Social - “uns dizem mata, com a proposta de corte imediato de 600 milhões de euros nas reformas em pagamento, os outros dizem esfola com a medida de redução da TSU”. Prosseguiu com o mercado de trabalho, apontando o agravamento da legislação, precariedade, facilitação de despedimentos, com a saúde e a educação, ambas com cortes orçamentais. Para concluir que têm um “programa comum”.

Para Jerónimo, é por isso que tanto PS como a coligação de direita, sob o pretexto da estabilidade governativa, pedem a maioria absoluta – para poderem implementar tal programa sem obstáculos. Um objectivo também pretendido pelo Presidente. “Tem graça ouvir Cavaco Silva a sacralizar a maioria absoluta”, ironizou. Ao nome do Chefe de Estado, na plateia ecoou uma valente assobiadela. Que foi, aliás, o som de fundo de cada vez que se falou em Cavaco e em boa parte das vezes em que a direita foi mencionada.

O secretário-geral comunista criticou o ambiente criado na pré-campanha à volta dos debates entre Costa e Passos, “transformados em duelos decisivos ao entardecer e amanhecer, de opções falsamente opostas”. E recusou a mistificação da bipolaridade – “o que eles querem é vender a ideia (…) de escolher entre dois males”. Mas, reforçou, a “soberania reside no povo e não no que PS, PSD e CDS têm nos seus programas”.

No distrito de Lisboa, a CDU elegeu em 2011 cinco deputados em 47 mandatos possíveis e registou uma votação percentual (9,55%) superior à média global (7,91%). O líder do PCP fez no Coliseu dos Recreios um apelo insistente ao voto na CDU, dirigindo-se a dada altura directamente aos indecisos. Falou do trabalho feito pelos deputados, do capital de seriedade, lealdade e confiança, e das propostas da coligação.

“O voto [na CDU é o] que dá segurança e garantia (…) que não acabará em qualquer uma das vielas da políticas de direita mas que, pelo contrário, esse voto somará para dar força a uma política patriótica e de esquerda.”

Insistiu: “Todos nesta batalha são candidatos! Todos nesta batalha são necessários! A vida não começa nem acaba no dia 4 de Outubro. Mas a prioridade é esta batalha eleitoral.”

Para os militantes e simpatizantes comunistas e ecologistas que encheram o Coliseu depois de uma curta mas barulhenta marcha desde a Praça da Figueira, a prioridade desta tarde foi ouvir Jerónimo mas também a música da Ronda dos Quatro Caminhos, porque são raros os comícios da CDU sem espaços musicais.  

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