Bem podem PS e a direita “limpar as mãos à parede” que as têm sujas de troika, diz Jerónimo
CDU defende nova taxa sobre empresa com poucos trabalhadores e grandes lucros para financiar Segurança Social. Jerónimo insiste na crítica à “mistificação” de que as eleições são para primeiro-ministro e acusa o PS de ter “hibernado” durante quatro anos.
E se não for a CDU a “trazer à memória o que andaram a fazer, é vê-los a tentar limpar a folha, é vê-los apresentarem-se lavadinhos por cima e por baixo como se não tivessem nada a ver” com o que se passou nos últimos anos, realçou o líder da CDU este sábado à noite num comício em Vila Nova de Famalicão.
É conhecido o gosto de Jerónimo pelas expressões populares para fazer passar a mensagem e esta noite não se fez rogado. Do PS disse ser “responsável por muita coisa” e que o partido de António Costa “bem tenta meter o conta-quilómetros a zero e apresentar-se aos portugueses de cara lavada, dizendo que dá porrada na direita…”
O que diz o PS sobre o futuro da Segurança Social? “Nada”, aponta Jerónimo. “E a direita? Que é preciso cortar mais 600 milhões já no próximo ano.” É por isso e por outras coisas que “é preciso derrotar este Governo”, tarefa para a qual a CDU já não conta com o PS. Porque esse partido “hibernou, desapareceu em combate durante quatro anos. Eramos nós que fazíamos o combate à direita, não era o PS.” Na assistência alguém grita “São todos iguais!”
Acordo com o PS? "Nem pensar!"
Quase no final da sua intervenção Jerónimo de Sousa interpelou a assistência. "Quando nos dizem ‘entendam-se lá com o PS’, eu percebo a justeza, o anseio legítimo de muitos socialistas preocupados desse entendimento. Mas digam-me lá, camaradas e amigos, com franqueza: vocês concordam que assinemos um acordo com o PS para também os reformados, os trabalhadores, os pensionistas, aqueles que menos têm e menos podem…" E foi prontamente interrompido: "Nem pensar!", "Não!", "Rua com eles!"
"Ah, então nós temos razão", replicou, satisfeito. "Quando nos falam do Governo, este PCP, esta CDU está em condições de assumir todas as responsabilidades que o povo português lhe entenda atribuir, todas, incluindo no Governo. Não nos peçam é que abdiquemos da nossa natureza, das nossas propostas..." E mais não se conseguiu ouvir tamanha foi a ovação dos militantes que enchiam a sala.
Jerónimo de Sousa apelou directamente “aos muitos que hesitam” para que “votem na CDU porque vale a pena”, elogiando o trabalho feito pelo deputado Agostinho Lopes, eleito por de Braga em 2011, e pela deputada Carla Cruz, que o substituiu em 2013, no âmbito da habitual rotatividade do grupo parlamentar comunista, e que subiu agora a cabeça de lista pelo distrito.
A "mistificação" das eleições e a "cantilena" da estabilidade
O líder comunista rejeitou a “mistificação” sobre estas legislativas, esclarecendo que, ao contrário do que querem fazer crer PS e PSD, “não há eleição nenhuma para primeiro-ministro; é a eleição de 230 deputados e depois, da relação de forças entre eles e da sua arrumação, esse é que decidirão o Governo e o programa de governo”. Essa “mistificação” destina-se a conduzir as pessoas a pensar que “quem está mais na calha é o PSD ou o PS ou, como eles dizem, o Costa ou o Passos Coelho, mas isso não corresponde à lei nem às eleições”, tentou explicar Jerónimo à assistência, composta por mais de 200 pessoas.
Criticou a “cantilena” dos que usam o argumento da necessidade de estabilidade de uma maioria absoluta para a governabilidade do país. E sobretudo por ser Cavaco Silva a insistir nessa ideia. Ele, que já foi primeiro-ministro e que teve maioria absoluta na Assembleia da República, para que usou esse poder? “Para a desestabilização da vida dos portugueses”, adiantou o líder comunista que lembrou também os “anos de retrocesso” provocados pela “estabilidade governativa” desta legislatura.
Durante a meia hora de discurso, Jerónimo de Sousa falou também sobre algumas propostas da CDU, como a subida do salário mínimo para 600 euros já em 2016 e, quando abordou a questão da sustentabilidade da Segurança Social, defendeu a criação de uma nova taxa para as empresas com poucos trabalhadores e grandes lucros (elevado Valor Acrescentado Líquido por trabalhador), que seria complementar ao actual regime de contribuições e serviria para ajudar a garantir a sustentabilidade da Segurança Social.