Ideias para receber (melhor) os refugiados
Ideias não faltam para enfrentar a crise de refugiados. Falta vontade política. Até quando vamos aceitar a forma indigna com que a Hungria trata os refugiados?
Só à ilha de Lesbos, na Grécia, chegam 50 barcos por dia. Desde Janeiro, chegaram mais de 400 mil pessoas. Muitos pedem asilo. Esta semana,o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fez um pungente apelo aos líderes europeus. Disse que a União está pouco unida e que é obrigação de um continente rico com 700 milhões de habitantes receber estas pessoas. E com urgência, pois o Inverno está à porta.
Os sinais, no entanto, não são bons. A Polónia e o Reino Unido já cederam um pouco, mas a dois dias de nova cimeira em Bruxelas a República Checa e Eslováquia recusam aceitar a ideia de quotas obrigatórias e não querem receber refugiados. Ao mesmo tempo, da Hungria chegam todos os dias imagens da forma degradante com que as autoridades locais tratam estes migrantes, muitos deles refugiados sírios, iraquianos e afegãos. Hoje foi o vídeo dos polícias que distribuem comida a refugiados atirando sacos de plástico pelo ar. Antes, foi a contagem de pessoas com marcas escritas nos braços. Amanhã vamos ver o quê na Hungria, um membro da União Europeia? Até quando vamos aceitar que um membro da União trate pessoas desta forma indigna?
A ONU e organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch sistematizaram algumas das decisões que devem sair da cimeira de segunda-feira. Mais segurança e mais canais legais para receber quem chega à Europa; mais concessão de vistos humanitários; harmonizar o sistema de asilo da União Europeia eliminando as disparidades entre os 28; definir quotas mais generosas e garantir que são respeitadas; usar o Fundo Europeu para os Refugiados para receber estas pessoas; melhorar as operações de salvamento no Mediterrâneo; mudar as regras de Dublin que, hoje, obrigam o primeiro país de chegada de um refugiado a ser aquele que dá resposta ao pedido de asilo independentemente da sua capacidade; garantir que o peso é partilhado por todos e não pelos países que, por causa da geografia, são a principal porta de entrada; e criar uma lista de “países inseguros”. A lista mostra que é possível melhorar as coisas. Desde que haja vontade política.