A esperança de António Guterres

É relevante a esperança de um homem que vê a miséria humana do mundo de forma directa e diária.

É relevante que um homem como António Guterres, que vê a miséria humana do mundo de forma directa e diária, ainda tenha esperança. Há dez anos à frente do ACNUR, o antigo primeiro-ministro português diz muitas vezes que ao longo da última década não viu nenhum dos conflitos que já existiam desaparecer e que, pelo contrário, só assistiu ao nascimento de novas guerras.

Alguns sinais parecem dar-lhe razão.

Depois de semanas a falar de Calais como se a Mancha fosse o túnel de entrada dos dois milhões de sírios deslocados por causa da guerra civil, David Cameron decidiu de forma voluntária – no seu caso não está obrigado às mesmas regras da União – que o Reino Unido receba afinal 20 mil refugiados sírios, uma proporção semelhante à da Alemanha, França e Espanha. Claramente, Cameron não estava à espera daquilo a que Guterres chama a “emergência de uma extraordinária reacção positiva da sociedade civil” a favor da recepção dos refugiados. E não estaria à espera que Angela Merkel se revelasse tão sensível e determinada, inspirando alemães e a Europa. Cameron é um político clássico – decide em conformidade com o que lhe parece ser a vontade da opinião pública. Teve medo dos xenófobos, que têm atacado centros de acolhimento de refugiados e agora tentam demonstrar, de uma forma mórbida, a suposta “fabricação” da fotografia do bebé sírio que deu à costa de uma praia turca sem vida. Guterres pede mais prevenção e mais resolução de conflitos e sonha com um mundo em que as migrações são “uma opção” e não “um imperativo de sobrevivência”. Estamos longíssimo disso. Para já, podemos começar por dar uma resposta de emergência efectiva e solidária e à escala real do problema. Já no dia 14.

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