Pêra rocha procura alternativas à Rússia e à dependência do Brasil
Autoridades da Colômbia, Peru e México fazem auditoria à fruta portuguesa para dar luz verde à exportação para estes países.
“Constituem a concretização de um trabalho exaustivo ao nível dos dossiês que são ‘esgrimidos’ durante meses e, por vezes, anos entre os ministérios da Agricultura de Portugal e dos países onde queremos chegar com as nossas frutas e legumes”, continua. As chamadas “missões técnicas” são preparadas em conjunto com a tutela de Assunção Cristas, os produtores representados pelo Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP) e a Portugal Fresh.
O México é o mercado onde a abertura às importações portuguesas está mais próximo de concretizar. A visita marcada para 21 a 24 é para “validação conclusiva”, adianta Manuel Évora. A mais recente comitiva, da Colômbia, esteve até sábado a visitar agricultores, pomares de pera rocha e os entrepostos das organizações de produtores. Se a missão técnica tiver sucesso, abre-se a possibilidade de fazer negócio com um país com “50 milhões de habitantes e com a particularidade de [lá] estar presente o grupo Jerónimo Martins com as lojas Ara, o que poderá ser também uma oportunidade para a fruta portuguesa e, em particular, para a pera rocha”, continua.
A empresa liderada por Pedro Soares dos Santos, dona do Pingo Doce, tem já 100 supermercados na Colômbia. O mais recente foi inaugurado esta semana em Cartagena das Índias e marca a entrada da cadeia Ara na região da Costa do Caribe, onde terá 40 lojas até ao final do ano.
Os produtores de fruta e legumes estão também a tentar entrar na região do Magreb e no Oriente e têm traçado o novo mapa das exportações em conjunto com o Ministério da Agricultura, através da Secretaria de Estado da Alimentação. “Um dos grandes objectivos é a China que, pela sua dimensão, pode ser uma solução muito interessante em anos de muita produção para conseguirmos equilibrar a dicotomia da oferta e da procura mundial de pera rocha, por exemplo”, afirma Manuel Évora.
Há mais de um ano que a busca por novos clientes internacionais tem sido a prioridades das empresas e agricultores, depois de a Rússia ter proibido a importação de hortofrutícolas europeus. Apesar de Portugal não exportar em grandes volumes para o mercado russo, outros países, como a Polónia, perderam o seu principal cliente. A oferta de fruta aumentou no espaço europeu, tal como a concorrência e a disputa por compradores alternativos.
O Brasil é um deles. Apesar de ser um dos mais importantes mercados para o sector e comprar regularmente pera, maçã, pêssego e ameixa, os problemas económicos e a desvalorização do real têm dificultado das exportações. “A pressão de muitos operadores, alguns deles pouco preparados e com uma abordagem incorrecta têm dificultado em muito a rentabilidade das empresas”, adianta Manuel Évora. “Nos últimos anos tem havido mais problemas de incumprimentos financeiros e principalmente uma constante e sucessiva desvalorização da qualidade das encomendas que enviamos”, lamenta.
A dependência do Brasil para a pera rocha, “a rainha” das exportações nacionais de fruta, é enorme. Em 2014, os produtores associados da ANP venderam para o estrangeiro 102 mil toneladas de pera, 40,2% das quais para o Brasil. Segue-se o Reino Unido, que absorve 17,5%, França (16,5%), Marrocos (9,5%) e Irlanda (5,9%).