Detido palestiniano em greve de fome faz ultimato a Israel

Mohammed Allan, 31 anos, começou uma greve de fome há dois meses. Diz que ou é libertado até esta quarta-feira, ou recusará todos os alimentos e até água.

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Mohammed Allan passou de desconhecido a símbolo por causa da sua greve de fome contra a detenção administrativa por Israel Mohammed Abed/AFP

Numa sessão no Supremo Tribunal de Israel, o ministério da Defesa tentou uma solução intermédia para o caso de Allan, que Israel diz ser membro do grupo Jihad Islâmica na Cisjordânia e acusa de terrorismo: Allan seria libertado na condição de aceitar passar quatro anos exilado. Allan recusou.

Com o ultimato de Allan, as autoridades israelitas vêem-se confrontadas com uma enorme pressão num contexto já especialmente tenso desde a morte de um bebé palestiniano num ataque de colonos na Cisjordânia, enfrentando um poderoso desafio à sua política de detenção administrativa, em que invocando falta de provas mas risco de libertação do detido, é possível manter indefinidamente na cadeia um suspeito desde que se faça um pedido ao tribunal a cada seis meses.

As autoridades de Israel também temem que centenas de outros prisioneiros sujeitos à mesma “detenção administração” – e que desde a morte do bebé palestiniano começaram a ser aplicadas também a judeus extremistas – sigam o mesmo caminho se libertarem Allan.

Sublinhando a tensão provocada pelo caso de Allan – até há dois meses absolutamente desconhecido – na semana passada houve confrontos entre muçulmanos e judeus extremistas à porta do hospital.

Sedado desde sexta-feira depois do seu estado ter piorado drasticamente, Allan recebeu medicação intravenosa e melhorou de tal modo que os médicos interromperam a sedação e desligaram o ventilador que o mantinha.

“Consciente e a comunicar”, segundo a descrição dos médicos do hospital Barzilai, em Ashkelon (Sul), o palestiniano decidiu aceitar vitaminas antes da sessão do tribunal desta quarta-feira. Se a decisão for negativa, “sublinhou que vai continuar a sua greve de fome”, disse o responsável palestiniano pelas questões legais e detidos, Jawad Bolus. “Continuará a greve de fome até ser libertado”, e recusará qualquer tratamento “incluindo beber água”, sublinhou Bolus.

O advogado de Allan, Jamil al-Khatib, visitou o seu cliente e descreveu à AFP um homem determinado a ir até ao fim – mantendo no entanto esperança de que as autoridades israelitas reexaminem o seu caso.

Na segunda-feira, um médico disse que o detido irá provavelmente morrer num muito curto espaço de tempo sem mais assistência clínica. Os médicos israelitas estão a recusar seguir uma nova lei que permite a alimentação forçada a detidos em greve de fome.

De acordo com os serviços de prisão de Israel e a associação de defesa de direitos humanos B’Tselem, quase 400 palestinianos estão actualmente detidos neste regime. O tempo médio de detenção sem acusação é de perto de um ano.

Em Julho, Israel libertou um detido em condições semelhantes, Khader Adnan, que também fez uma greve de fome que durou mais de 50 dias e o deixou em perigo de vida. Tal como Allan, também Adnan, 37 anos, era acusado de pertencer à Jihad Islâmica. Adnan tinha já feito outra greve de fome, de 66 dias, quando esteve detido em 2012 – desta vez, acabaram por fazer greve cerca de 2000 detidos palestinianos em protesto pela política de detenção.

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