Inauguração de embaixada cubana em Washington marca fim do isolacionismo

Esta segunda-feira, a bandeira de Cuba vai ser de novo hasteada numa cerimónia oficial nos Estados Unidos. Acto simbólico em Havana ficou adiado para o próximo mês, com visita de John Kerry à ilha.

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John Kerry não pode ir já hastear a bandeira, mas a embaixada dos EUA em Havana abre oficialmente na segunda-feira Alexandre Meneghini/Reuters

Esta segunda-feira entrará para a cronologia dos compêndios históricos como a data em que os dois países vizinhos e inimigos históricos reataram oficialmente –  e de facto – a sua ligações diplomáticas, interrompida em 1961, na sequência da revolução que depôs o regime pró-americano de Fulgêncio Batista e levou Fidel Castro ao poder em Cuba.

O anúncio da normalização das relações foi feito pelos Presidentes Barack Obama e Raúl Castro em Dezembro passado; o facto de terem decorrido pouco mais de seis meses até a reabertura das respectivas embaixadas é revelador da vontade mútua de ultrapassar uma política herdada da Guerra Fria e que, nas palavras dos dois líderes, comprovadamente não produziu os resultados desejados.

A poucos quilómetros de Foggy Bottom, centro nevrálgico da diplomacia norte-americana, a despretensiosa mansão neo-colonial que abrigava a secção de interesses do Governo de Havana, na rua 16 da capital, terá uma nova placa no portão, a anunciar que ali funciona agora a embaixada de Cuba nos Estados Unidos.

A bandeira do país vai ser hasteada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodríguez, naquela que será a primeira deslocação oficial de um governante cubano a Washington (vem acompanhado por uma comitiva de 30 membros do Governo). Depois da cerimónia, que terá centenas de convidados, desde dignitários estrangeiros a legisladores americanos, o ministro cubano será recebido pelo secretário de Estado, John Kerry.

A previsão inicial era que o chefe da diplomacia americana estivesse em Havana a fazer exactamente o mesmo que o seu homólogo cubano em Washington. No entanto, a agenda de John Kerry foi-se complicando com o arrastamento das negociações internacionais para um acordo de limitação e supervisão das actividades nucleares do Irão, que decorreram em Viena de Áustria – a embaixada dos Estados Unidos em Cuba vai abrir portas ainda mais discretamente, com a festa a ficar adiada para o próximo mês, quando o secretário de Estado viajará para oficialmente desfraldar a bandeira das estrelas e riscas no complexo diplomático americano, voltado para o Malecón e a baía de Havana.

“Legalmente, a embaixada estará a operar a partir de segunda-feira. Não é um requerimento legal que a bandeira esteja hasteada na fachada do edifício”, garantiu um porta-voz do Departamento de Estado, citado pelo The Washington Post. A Administração ainda não nomeou o futuro embaixador, uma escolha que terá de ser votada pelo Senado – por enquanto, a representação de Havana continuará a ser dirigida por Jeffrey DeLaurentis, agora com o posto do encarregado de negócios.

Alheados da festa na capital, um grupo de legisladores cubano-americanos convocaram a imprensa para um evento à mesma hora na cidade de Miami. O seu objectivo é denunciar a reabertura das embaixadas, que classificaram como “uma capitulação indefensável da Administração Obama perante um inimigo declarado dos EUA”, segundo disse ao The Wall Street Journal a veterana congressista republicana Ileana Ros-Lehtinen.

Outras acções de contestação estão previstas para Washington: activistas pelos direitos humanos e opositores do regime dos irmãos Castro em Cuba organizaram um protesto para o passeio oposto à nova embaixada de Cuba. “Não somos a favor do isolacionismo, mas para nós a mudança não devia passar pela legitimação das pretensões do regime, sem consideração pelas queixas e avisos da sociedade civil”, explicou o blogger e dissidente cubano Orlando Luis Pardo Lazo, exilado nos EUA desde 2013.

Ouvido pelo mesmo diário financeiro, Pardo Lazo disse que o Governo de Havana espera que a normalização política e o eventual fim do embargo económico desencoraje os opositores ao regime da sua luta pela mudança política na ilha. “Eles esperam que a população seja feliz com cenouras."

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