Os ferries vão voltar a ligar os EUA a Cuba

A reaproximação entre as duas nações faz-se de pequenos grandes passos. Ainda não há data para a reabertura de embaixadas, mas já há novos voos e viagens de barco previstas.

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Raúl Castro e Barack Obama na cimeira do Panamá, em Abril Reuters

“Se tudo correr bem, podemos ter as coisas a funcionar em Setembro”, diz à BBC e à Reuters Joseph Hinson, vice-presidente da Baja Ferries USA, com sede em Miami e parte de um grande grupo marítimo que transporta passageiros e carga. Outra empresa que já obteve autorização para fazer o percurso é a America Cruise Ferries, com sede em Porto Rico.

A imprensa norte-americana refere que terão sido dadas licenças a cinco empresas, mas pelo menos outras quatro anunciaram ter obtido autorizações. “Confirmaram-nos que, depois de dez anos a tentar, recebemos uma licença para transportar passageiros”, afirmou ao El País o presidente da United Americas, de Miami. Outras duas empresas, avança o diário espanhol, anunciaram o mesmo, a Havana Ferry Partners e a Airline Brokers.

“É um acontecimento histórico. Obrigado, Presidente Obama, estamos muito agradecidos pela sua liderança”, escreveu no Facebook a Havana Ferry. A Airline Brokers publicou parte da licença obtida na mesma rede social: “Estávamos à espera disto desde 1991”, congratula-se a empresa de transportes.

De acordo com o diário Sun Sentinel, da Florida, outra empresa, a United Caribbean Lines, também tem uma das desejadas autorizações. No seu site, a transportadora já anuncia o serviço “a partir do Outono” em barcos com “400 camarotes e capacidade para 1500 passageiros”.

Este é mais um passo na reaproximação das duas nações, anunciada pelos respectivos líderes, Barack Obama e Raúl Castro, em Dezembro, 54 anos depois do corte de laços diplomáticos. O regresso das viagens de ferry a ligarem os EUA à ilha foi tornado possível na sequência das reuniões de alto nível que têm decorrido entre representantes dos dois países responsáveis por diferentes áreas.

Se as viagens recomeçassem de imediato, os 160 quilómetros de travessia (a partir do Sul da Florida) não estariam disponíveis para todos. De acordo com as leis actuais, as empresas só poderão transportar passageiros norte-americanos que cumpram uma das 12 categorias que lhes permitem neste momento viajar para Cuba, e que incluem critérios religiosos, culturais, educativos ou políticos, mesmo depois da flexibilização anunciada por Obama em Janeiro. Antes, qualquer norte-americano que pretendesse visitar a ilha teria de pedir uma autorização prévia.

Nada que pareça travar as empresas que há muito estão interessadas em ligar os EUA a Cuba (a Baja Ferries já anunciou que embarcações para mil pessoas farão a viagem três ou quatro dias por semana, num serviço nocturno), e que podem também transportar cubanos autorizados a entrar nos EUA e estrangeiros que visitem a ilha nalgum tipo de viagem oficial. E, claro, cubanos-americanos que queiram visitar familiares.

Muitas dúvidas
Apesar do contentamento demonstrado pelas empresas, sobram ainda dúvidas, incluindo a questão das autorizações do lado de Havana. “Tenho uma lista com umas 120 perguntas”, brinca o presidente Joseph Hinson, da Baja Ferries, que nunca acreditou que as licenças chegassem “antes da reabertura das embaixadas”. Este era o passo pelo qual todos esperavam, depois do encontro entre Obama e Castro na Cimeira das Américas, no mês passado, no Panamá.

Entretanto, a oferta de transporte aéreo entre os dois países continua a aumentar. Depois de uma viagem a Havana com empresários de várias áreas, em Abril, o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, anunciou na terça-feira que a transportadora aérea JetBlue vai começar a realizar voos charter para Cuba, tornando-se na primeira empresa de escala nacional a retomar estas ligações voos a partir de Nova Iorque.

Para comprar lugar num destes aviões já há data: o primeiro avião para o Aeroporto José Martí, de Havana, vai descolar a 3 de Julho do Aeroporto John F. Kennedy. Os voos serão semanais e vão realizar-se todas as sextas.

Cuomo, o primeiro governador norte-americano a visitar a ilha depois dos discursos do degelo, em Dezembro, justificou a “missão comercial” que liderou a Havana: “A nossa missão tinha como objectivo abrir a porta a novas oportunidades económicas e o anúncio da JetBlues é a prova de que a estratégia está a dar frutos para as empresas nova-iorquinas”.

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