PS-Madeira acusa António Costa de "violar a democracia"
Líder do PS anunciou na sexta-feira Bernardo Trindade como cabeça de lista pela Madeira à revelia do PS local, que fala em desrespeito pela autonomia estatutária do partido.
Trindade, ex-secretário de Estado do Turismo de José Sócrates e actual presidente do congresso do PS-Madeira, foi uma escolha pessoal de António Costa, à revelia da direcção regional que, em comunicado, diz que não a reconhece.
“A seu tempo o PS-Madeira apresentará ao secretário-geral do Partido Socialista, dr. António Costa, a lista completa dos candidatos de acordo com o que vier a ser determinado nos seus órgãos próprios”, lê-se no comunicado emitido este sábado à tarde, em que os socialistas madeirenses acusam Costa de violar “os mais elementares valores da democracia e da autonomia”.
No documento, a que o PÚBLICO teve acesso, a direcção do PS madeirense estranha que não tenha havido o “imprescindível respeito pela autonomia estatuária do PS-Madeira”, e fala de um timing “anormal, precipitado e incompreensível”, já que a Comissão Política Nacional ainda não definiu os perfis dos candidatos. Tudo isto acontece, acrescenta o PS-Madeira, ao arrepio da longa praxis política interna do partido.
“O sucedido viola os mais elementares valores da democracia e da autonomia pelos quais o PS-Madeira se pauta”, continua o documento, sublinhando que António Costa terá de informar o eleitorado madeirense dos motivos pelos quais colocou o “respeito institucional e a autonomia” dos socialistas madeirenses na “gaveta”.
Para o PS-Madeira, este comportamento de Costa, reafirma o “centralismo do Largo do Rato”, em detrimento de uma estratégia - “que foi atempadamente comunicada” – que “valorize” o partido na Madeira.
O nome de Bernardo Trindade foi revelado sexta-feira à noite, após a reunião do secretariado nacional, em conjunto com outros cabeças de lista de outros círculos eleitorais. O nome, sabe o PÚBLICO, já tinha sido falado entre António Costa e o presidente dos socialistas madeirenses, Carlos Pereira. Mas este recusou sempre comprometer-se, justificando que caberia aos órgãos regionais fazer essa escolha.
“Não seria elegante da minha parte falar de nomes, quando cabe à comissão política regional e ao conselho regional decidir sobre essa matéria, e esses órgãos ainda não estão constituídos”, explicou Carlos Pereira, garantindo que as escolhas do PS-Madeira serão conhecidas no dia 17 de Julho.
Os nomes podem não coincidir com os da direcção nacional. A tradição na Madeira, que tem sido seguida por PS, CDS e PSD, dita que seja o líder regional a encabeçar a lista a São Bento e, ao contrário de Miguel Albuquerque pela parte do PSD, Carlos Pereira não afasta essa possibilidade.
Assim, o PS corre o risco de no dia 17 ter duas listas para a Madeira: uma imposta pelo Largo do Rato, e outra escolhida no Funchal.
Em causa, garante o PS-Madeira, não está o nome de Bernardo Trindade, que é um dos históricos dos socialistas madeirenses que Carlos Pereira, nas recentes eleições internas, chamou para a presidência do congresso, mas sim a forma como a direcção nacional decidiu “interferir” num processo que tem sido sempre tratado a nível regional.
Carlos Pereira chegou no final de Maio à presidência do PS-Madeira sucedendo a Victor Freitas depois da pesada derrota nas regionais de Março. Apoiante de António Costa desde a primeira hora durante as eleições internas do partido, o líder dos socialistas madeirenses convidou-o para encerrar o congresso regional, em Junho, que serviu para legitimar a nova estratégia do partido para a Madeira.
Costa acabou por não estar presente devido ao falecimento de Ferraz de Abreu, antigo presidente do PS, e internamento de Maria Barroso, mulher do ex-Presidente da República Mário Soares.