Centenas de turistas fogem da Tunísia enquanto Governo tenta salvar o sector

Apelo do Reino Unido - que mandou os seus cidadãos para casa pois um novo atentado é "altamente provável - cria crispação entre Londres e Tunes. Tal posição, dizem os tunisinos, “alimenta” e "dá força" ao terrorismo.

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Turistas britânicos abandonam a Tunísia. FETHI BELAID/AFP

Na quinta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido emitiu um comunicado, considerando que um novo ataque terrorista na Tunísia era “altamente provável” e, como tal, aconselhava os seus turistas a saírem do país. Num vídeo partilhado pelo Ministério, Philip Hammon, o responsável pelos Negócios Estrangeiros disse que “ainda há trabalho a fazer” nas principais áreas turísticas da Tunísia, “para proteger efectivamente os turistas da ameaça terrorista”, posição que não foi bem recebida pelas autoridades tunisinas

“A Tunísia está a fazer tudo o que pode para proteger os cidadãos [britânicos] e os seus interesses”, declarou Habib Essid, primeiro-ministro do país ao Parlamento, na quinta-feira, citado pelo jornal The Guardian, prometendo ligar ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, para partilhar o seu criticismo à posição do seu país. “O Reino Unido é livre de tomar as decisões que quiser – é um país soberano – mas nós também somos um país soberano e temos uma posição a defender”.

Numa entrevista à televisão britânica BBC, na quinta-feira à noite, o embaixador tunisino em Londres, Nabil Ammar, apelou ao Reino Unido para voltar atrás na decisão, pois considera que é exactamente “isto que o terrorismo quer”. Para Ammar os seus agentes irão “alimentar-se do desespero” da população da Tunísia, quando a “indústria do turismo colapsar”, uma vez que a “falta de esperança” é uma das fontes do terrorismo. “Ao prejudicarem o turismo eles [o Reino Unido] prejudicarão todo o sector e irão colocar várias pessoas sem trabalho e nas ruas”, disse o embaixador.

A economia da Tunísia sempre dependeu bastante do turismo e beneficiou de um crescimento considerável devido ao sucesso da sua transição democrática, a partir de 2011, descrita pelos parceiros ocidentais como “exemplar”. A indústria do turismo representa, actualmente, pelo menos 7,3% do PIB do país e nela está envolvida 14% da população activa, com 470 mil empregos directa ou indirectamente relacionados.

Após o atentado no museu Bardo, em Março deste ano, no qual morreram 22 pessoas, o Governo tunisino lançou uma campanha para “reparar os danos infligidos à sua imagem”, nas palavras do jornal francês Le Monde. Mas a morte de 38 pessoas, no massacre na praia de Sousse, há cerca de duas semanas, pode ser fatal para a Tunísia e para o seu essencial sector turístico.

Durante esta sexta-feira centenas de turistas britânicos deslocaram-se para os aeroportos do país, à espera de um voo que os levasse de regresso a casa. As agências de turismo do Reino Unido calculam que estarão, neste momento, cerca de três mil britânicos de férias na Tunísia e, por isso, as principais companhias aéreas já anunciaram voos comerciais extra para recolher os turistas. Algumas delas cancelaram mesmo todas as viagens para a Tunísia, até finais de Outubro. Das 38 pessoas que morreram no ataque perpetrado por Seifeddine Rezgui, 30 eram de nacionalidade britânica.

O êxodo dos turistas britânicos está a deixar os trabalhadores da indústria hoteleira “devastados”, diz a BBC. Uma turista britânica disse à televisão pública que no seu hotel estavam apenas 34 hóspedes, quando em situações normais “deveriam estar 800”.

De resto, tal como referia o seu primeiro-ministro, as autoridades tunisinas estão a fazer de tudo para garantir a segurança dos turistas. Cerca de três mil polícias armados foram distribuídos pelas praias e hotéis do país e, esta sexta-feira, o Governo revelou a detenção de mil pessoas, suspeitas de ligação ao jihadismo e a proibição de perto de 15 mil pessoas de saírem do país, num total de sete mil operações de segurança, desde o ataque ao Bardo.

Mas o impacto da posição do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico não foi somente junto do turismo tunisino. Na tarde de sexta-feira, os governos da Dinamarca e da Finlândia, que já haviam apelado anteriormente à “prudência” e “cautela” dos seus cidadãos que estivessem na Tunísia, reforçaram o alerta e também os aconselharam a sair do país, salvo “razões indispensáveis”.

O Governo francês, por outro lado, optou por manter a sua posição inicial de apenas aconselhar os seus turistas na Tunísia a manterem-se “vigilantes”. Romain Nadal, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França, disse, citado pela agência AFP, que o conselho do Governo era ”baseado na sua análise da ameaça securitária” e na “monotorização cuidadosa” da situação, por parte das autoridades tunisinas.
 
Texto editado por Ana Gomes Ferreira

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