Uma máquina de triturar governos
Volta-se a falar num governo de unidade nacional. E volta a não haver acordo com os credores
A Europa continua a dar um espectáculo lamentável ao resto do mundo. Às segundas, quartas e sextas são amigos e estão quase a firmar um acordo. Às terças, quintas e sábados já estão de costas voltadas e tudo regressa à estaca zero. Ao domingo já ninguém entende o que os une ou o que os separa. Tem sido assim o dia-a-dia das negociações entre o governo de Alexis Tsipras e os restantes países que fazem parte do euro. Numa cimeira que deveria ser histórica por estar a discutir os passos para uma maior integração da União Europeia, anda tudo com o credo na boca a ver se a Grécia não sai do clube, o que seria recuar várias décadas no tal processo de integração.
Há culpas dos dois lados, mas já se percebeu que, para a troika, a queda do governo de Tsipras é a menor das preocupações. Mostrar aos jornalistas o documento apresentado pelo governo grego todo rasurado e pintado de vermelho pelos técnicos dos credores só serve para tentar humilhar um partido que está no poder e que lá está porque foi eleito democraticamente. Mas a troika, já se percebeu, por onde passa, tem funcionado como um triturador de governos. No caso grego, já se experimentou de tudo. O Pasok que era governo nos primórdios da crise foi varrido do mapa e agora só tem 13 deputados num Parlamento com 300. Na Nova Democracia, que se seguiu no poder, a razia não foi tão grande, mas não evitou ser derrotada pela esquerda radical do Syriza.
Pelo meio ainda se ensaiou um governo tecnocrata liderado por Lucas Papademos, mas que resistiu pouco por não ter sido eleito. E agora é a vez de se voltar a falar num governo de unidade nacional, que poderia ser chefiado pelo governador do Banco da Grécia ou pelo antigo primeiro-ministro conservador Costas Caramanlis. Será que com tantas trocas e tantos governos, da esquerda à direita, a culpa também não será de quem se senta do lado de lá na mesa das negociações?