Alemanha liberta jornalista da Al-Jazira condenado no Egipto

Ahmed Mansour foi detido em Berlim pela polícia alemã, mas o Ministério Público ordenou a sua libertação imediata.

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O Governo alemão deixou claro que não deportaria Mansour JOHN MACDOUGALL/AFP

Os procuradores do Ministério Público alemão decidiram não avançar com o caso e ordenaram a libertação imediata do jornalista, sem qualquer acusação.

Ahmed Mansour, um dos mais conhecidos e respeitados jornalistas da Al-Jazira, foi julgado e condenado à revelia por um tribunal egípcio a 15 anos de prisão. Foi acusado de ter torturado um advogado em 2011, na Praça Tahrir, durante a revolução que depôs o antigo Presidente Hosni Mubarak – uma acusação que sempre negou.

Segundo a agência Associated Press, um vídeo do incidente mostra o advogado a ser pontapeado, mas em nenhum momento se vê Ahmed Mansour.

Não é claro se havia um mandado de captura internacional para a sua detenção – um porta-voz do Ministério da Administração Interna alemão disse que a polícia do país recebeu um pedido da Interpol para deter Mansour, mas os responsáveis da Al-Jazira garantem que a Interpol já tinha rejeitado um pedido das autoridades egípcias, considerando que não havia justificação legal para emitir um mandado de captura internacional.

Ainda assim, Mansour foi detido no sábado, no Aeroporto de Berlim Tegel, pela polícia alemã, e foi ouvido esta segunda-feira em tribunal.

A sua libertação foi anunciada pelo colega Aissa Taibi, correspondente da Al-Jazira em Berlim: "Não tenho muitos pormenores, mas sei que ele foi libertado e que já se encontrou com o seu advogado e com os advogados da Al-Jazira."

Um dos advogados, Patrick Teubner, disse à agência Associated Press que "não havia alternativa" à libertação de Ahmed Mansour. O porta-voz da Al-Jazira, Hareth Adlouni, também já reagiu, congratulando-se com a decisão.

Mesmo que o Ministério Público alemão tivesse decidido avançar com o caso, o mais provável é que o Governo do país travasse a deportação de Mansour para o Egipto. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Martin Schaefer, deixou clara a posição de Berlim, ainda antes de ter sido anunciada a libertação: "Creio que não podemos dizer isto de forma mais clara. É evidente que ninguém será extraditado da Alemanha se se arriscar a ser condenado à morte no estrangeiro."

Desde que o general Abdel Fattah al-Sisi chegou ao poder no Egipto, em 2013 – primeiro através de um golpe militar, e em 2014 em eleições sem a participação do Partido Liberdade e Justiça (da Irmandade Muçulmana) –, os tribunais do país têm sentenciado centenas de pessoas à pena de morte e a prisão perpétua, quase todas elementos da Irmandade Muçulmana.

Ahmed Mansour não é o primeiro jornalista da Al-Jazira a ser condenado no Egipto. No ano passado, o australiano Peter Greste, o canadiano nascido no Egipto Mohamed Fahmy e o egípcio Baher Mohamed foram acusados de vários crimes, incluindo ajuda a um grupo terrorista – o que no Egipto equivale a ser acusado de ter ligações à Irmandade Muçulmana.

Os três estiveram presos durante mais de um ano e foram libertados em Fevereiro – Greste foi extraditado para a Austrália, enquanto Fahmy e Mohamed foram libertados sob fiança. Estão todos a ser novamente julgados, depois de as suas primeiras condenações terem sido revogadas em Janeiro.

As autoridades egípcias acusam a Al-Jazira, uma estação com sede no Qatar, de ser uma espécie de porta-voz da Irmandade Muçulmana, o movimento islamista que foi expulso do poder no golpe militar liderado pelo general Sisi.

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