Dinamarca indecisa entre continuidade do centro-esquerda e regresso da direita
Bloco Vermelho da primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt e Bloco Azul de Lars Lokke Rasmussen ombro-a-ombro nas eleições desta quinta-feira.
As últimas sondagens atribuíam diferenças mínimas nas intenções de voto, com uma ligeiríssima vantagem para o bloco de direita – o sistema eleitoral dinamarquês torna praticamente impossíveis maiorias absolutas de um só partido.
Um estudo publicado na terça-feira pelo diário Jyllands-Posten atribuía 49,9% ao bloco de direita, contra 50,1% para o centro-esquerda liderado pela primeira-ministra Thorning-Schmidt. Mas outra sondagem, da véspera, admitia o contrário, com 50,3% contra 49,5%.
São dados que, tendo em conta a impopularidade do Governo durante a maior parte do seu mandato, ninguém esperaria há algum tempo. A vantagem do centro-direita nas sondagens chegou há dois anos a ser de 17% e no início de 2015 mantinha-se nos 10%. “É uma eleição verdadeiramente disputada. Ninguém tem uma vantagem clara”, disse à AFP Rune Stubager, professor de ciência política da Universidade de Aarhus.
Foi a retoma da economia que relançou a disputa. No final de Maio, imediatamente antes de convocar as legislativas, Helle Thorning-Schmidt proclamou o fim da crise. A previsão de que o crescimento económico será este ano de 1,7%, contra os anteriormente estimados 1,4%, permitiu-lhe subir, em poucos dias, sete pontos nas sondagens.
Thorning-Schmidt, 48 anos, que em 2011, num contexto de crise, interrompeu dez anos de governação de centro-direita, ganhou novo ânimo na luta por um segundo mandato à frente do Bloco Vermelho, composto por social-democratas, sociais-liberais, Partido Popular Socialista, Aliança Verde-Vermelha e Partido Alternativo.
Lars Lokke Rasmussen, 51, que procura recuperar a confiança dos eleitores, viu o que parecia uma vitória fácil tornar-se uma incerteza para o Bloco Azul, que agrupa o seu partido, o liberal Venstre, os populistas do Partido Popular Dinamarquês, a Aliança Liberal, o Partido Conservador do Povo e os democratas-cristãos.
Apeado do poder há quatro anos, depois de ter liderado o Governo entre 2009 e 2011, Rasmussen reclama para si a paternidade da recuperação económica.
Ainda que tenha prosseguido políticas do antecessor em matérias como as privatizações – o que lhe valeu críticas à esquerda e levou à saída do Partido Popular Socialista da coligação governamental, em 2014 – Thorning-Schmidt assumiu-se como o rosto da retoma e é nisso que aposta para continuar a governar o reino da Dinamarca.
Um dado merecerá particular atenção na análise destas legislativas: o resultado do Partido Popular Dinamarquês (DF), que tem condicionado as políticas migratórias de um país de 5,7 milhões de habitantes, 9% dos quais nascidos no estrangeiro.
Num escrutínio que acontece poucos meses depois de um duplo atentado de um jovem dinamarquês de origem palestiniana, que em Fevereiro matou duas pessoas em Copenhaga, uma delas um judeu junto à sinagoga da capital, o partido anti-imigração, que entre 2001 e 2011 apoiou os governos de direita a troco de políticas migratórias restritivas, pode conseguir um resultado histórico, subindo dos 12,3% de 2011 para uma votação na casa dos 18%.
O Bloco Azul, que integra, anuncia medidas para tornar a Dinamarca menos atractiva para os requerentes de asilo – redução de subsídios para novos refugiados e autorização de residência apenas para quem tem emprego e fala dinamarquês.
Embora tenha aumentado as despesas com os requerentes de asilo, Helle Thorning-Schmidt foi também influenciada pelas políticas restritivas de imigração, que não corrigiu quando chegou ao Governo. Numa recente entrevista ao jornal Politiken reclamou mesmo para o seu Governo o primeiro endurecimento das políticas migratórias dos últimos 12 anos. Em cartazes de campanha, junto à sua foto pode ler-se uma frase elucidativa: “Se vêm para a Dinamarca devem vir trabalhar.”